Título: Tarso: desvio ''meramente tributário''
Autor: Fernando Exman
Fonte: Valor Econômico, 20/10/2005, País, p. A2

SÃO PAULO - No calor do empurra-empurra entre PT e PSDB, como se fosse uma insólita disputa para descobrir qual dos dois partidos é mais corrupto, ontem o presidente interino do PT, Tarso Genro, disse que o caixa dois é um desvio ¿meramente tributário¿. ¿ A corrupção sistêmica adquiriu seu ponto mais alto, na história do país, nos últimos 10 anos, dos governos Collor e FHC. O que o PT quer não é limitar as investigações do caixa 2. Pelo contrário. O que queremos é desvendar este sistema histórico de corrupção, do qual o caixa 2 é um sintoma grave, mas meramente tributário ¿ afirmou em nota.

A nota divulgada ontem é uma resposta a uma declaração conjunta em que PSDB e PFL acusam o PT de tentar desviar as investigações das CPIs que investigam o suposto esquema de pagamento de suborno a deputados com dinheiro que teria origem no caixa dois das legendas envolvidas no escândalo.

A provocação tucana teve origem com a convocação do ex-tesoureiro de campanha do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG). Ontem, Cláudio Mourão, que trabalhou para Azeredo em 1998, afirmou à CPI dos Correios que atuou com Marcos Valério no caixa 2 da campanha de Azeredo, apesar de isentar o senador.

Genro afirmou também que a iniciativa de PSDB e PFL em divulgar nota com críticas à convocação de pessoas que trabalharam em campanhas até 2002, reflete o temor da oposição.

¿ A nota externa o temor de que as investigações cheguem na origem dos recursos da compra de votos para a reeleição de FHC e abram o esquema mineiro de financiamento, que desmascararia os moralistas de última hora ¿ ataca o petista, que defendeu ainda que todos os ex-presidentes do PT tenham vaga cativa no Diretório Nacional.

Assumir o caixa 2 foi a saída encontrada pelo PT assim que surgiu no cenário da crise a figura de Marcos Valério. Para explicar os empréstimos e o volume de recursos movimentados pelo dono de agências de publicidade, o ex-tesoureiro da legenda, Delúbio Soares, confessou a prática de caixa 2 nas campanhas da sigla. As declarações do ex-tesoureiro causaram polêmica, mas a afirmação do presidente Lula, em uma entrevista que concedeu durante sua viagem à França em julho, teve repercussão ainda pior. Lula afirmou que ¿do ponto de vista eleitoral¿ o caixa dois ¿ é feito sistematicamente¿ no Brasil.

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, afirmou que o país necessita de uma verdadeira ¿revolução cultural¿ para retirar da mentalidade do brasileiro a imagem da sonegação fiscal como prática comum. O Tribunal Superior Eleitoral ainda pretende acabar com imunidade tributária de partidos que pratiquem o caixa 2.