Título: Tucanos usaram R$ 11 milhões de Marcos Valério
Autor: Fernando Exman
Fonte: Valor Econômico, 20/10/2005, País, p. A2

Tesoureiro confessa caixa 2 na campanha de Azeredo

BRASÍLIA - A confissão do tesoureiro da reeleição do ex-governador de Minas Gerais Eduardo Azeredo de que a campanha do tucano usou recursos de Marcos Valério em 1998 gerou novo embate entre a base de sustentação do governo e a oposição. Cláudio Mourão afirmou na CPI dos Correios que os tucanos também usaram caixa 2. Os ânimos se acirraram e o ex-tesoureiro precisou, por vezes aguardar 20 minutos enquanto os deputados batiam boca na comissão. Em represália, o PSDB decidiu estender as investigações de recursos não contabilizados a petistas em outros estados na esperança de descobrir outras irregularidades.

Em seu depoimento, Mourão admitiu que contou com a participação de Marcos Valério, acusado de ser o operador do mensalão. Ele disse que a campanha do senador ao governo mineiro custou aproximadamente R$ 20 milhões. Apenas R$ 8,5 milhões foram registrados na Justiça Eleitoral. Mourão disse que Valério forneceu R$ 11 milhões e outros R$ 1,6 milhão que ele próprio destinou à campanha

Dos R$ 11 milhões dados por Valério, disse Mourão, R$ 9 milhões tiveram como origem empréstimo no Banco Rural. Mourão afirmou que devolveu a Valério somente R$ 1 milhão.

¿ É evidente que tive uma contabilidade paralela, um caixa 2 ¿ disse, justificando que endividou-se acreditando que poderia pagar com recursos contabilizados, o que acabou não acontecendo. Mourão negou, entretanto, que Azeredo e seu candidato a vice-governador, Clésio Andrade, sabiam do esquema.

O ex-tesoureiro da campanha de Azeredo afirmou ainda que o publicitário Duda Mendonça também recebeu dinheiro não contabilizado. Os serviços de Duda custaram R$ 4,5 milhões, mas apenas R$ 700 mil foram devidamente registrados. No entanto, Mourão descartou a possibilidade de parte dos pagamentos ao publicitário terem sido feitos no exterior, como Duda Mendonça disse que recebeu pelos serviços prestados ao PT.

O depoimento do ex-tesoureiro da campanha tucana de 1998 de Minas Gerais transformou-se num palco para tucanos e petistas fazerem acusações mútuas. A bancada governista utilizou o depoimento para tentar creditar a autoria do esquema de Valério para o financiamento de campanhas políticas com recursos não contabilizados aos tucanos.

Deputados e senadores do PSDB admitiram o erro ocorrido ¿pontualmente em Minas Gerais¿. Mas, fizeram questão de destacar que no caso tucano não envolve denúncias de corrupção em órgãos e empresas estatais, nem mesmo no diretório nacional do partido.

Em um contra-ataque à convocação de Mourão, os tucanos querem agora que a questão de caixa 2 de campanha passe a ser investigada amplamente. O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), pediu a criação de sub-relatoria na CPI dos Correios para concentrar apurações sobre o tema e encaminhou requerimento pedindo a convocação de 11 tesoureiros petistas de campanhas do partido nos principais estados.

O deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) chegou a defender a criação de CPI específica para investigação de caixa 2.

¿ Eles vestiram a carapuça e agiram de forma desproporcional. Acharam que poderiam contar a história com um marco zero que seria em 2002, e não contando a história completa. O que se está investigando é o esquema todo, e não Minas Gerais. Estamos aqui contando a história completa ¿ afirmou o deputado Maurício Rands (PT-PE).

Mourão afirmou que conhece Valério desde o início da década de 1990, mas que mantinha relacionamento próximo com o sócio dele Cristiano Paz, que foi seu vizinho na infância. Ele entregou à CPI lista com nomes a quem repassou dinheiro de Valério.