Título: MBAs brasileiros terão controle rígido e selo de qualidade
Autor: Andrea Giardino
Fonte: Valor Econômico, 10/11/2004, Eu & Carreira, p. D-6

Nos últimos, o mercado brasileiro tem sido palco de uma enorme proliferação de cursos de MBA (Master in Business Administration). Não há dados oficiais sobre o número de cursos existentes no país, mas estimativas do setor indicam que eles ultrapassam a casa dos mil. Uma coisa, no entanto, é certa: poucos passam por uma análise mais criteriosa do programa que será ministrado ou mesmo da qualificação do corpo docente. O crescimento desordenado de cursos desde o início da década de 90 é reflexo da falta de regulamentação mais rígida pelo Ministério da Educação (MEC). Mas acabou incomodando algumas das mais renomadas instituições de ensino que decidiram criar a Associação Nacional das Escolas de MBA (Anamba). Lançada oficialmente ontem, ela tentará evitar que cursos fora dos padrões dos MBAs tradicionais - com origem nos Estados Unidos - usem a sigla. "Uma avalanche de MBAs específicos surgiram por aí, como os de moda, vendas, varejo e marketing, por exemplo", afirma Luca Borroni-Biancastelli, secretário executivo da Anamba. "Mas eles aproveitam as três letrinhas que se popularizaram bastante no país para atrair alunos para cursos que não passam de uma especialização." Foi pensando em pôr ordem na casa que Borroni-Biancastelli, professor e representante do Ibmec-SP, em conjunto com outras sete escolas - Fundação Instituto de Administração (FIA); Katz Graduate School of Business, University of Pittsburgh; Escola de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; ESPM Business School; CEDEPE Recife e Escola de Direção de Empresas FISP - se uniram. A idéia é ter uma espécie de selo de qualidade, com os mesmos parâmetros da ISO 9000. Foto: Paulo Giandalia/Valor

Borroni-Biancastelli, da Anamba: muitos MBAs, na verdade, não passam de um curso de especialização Para isso, a Anamba desenvolveu uma série de regras que visam dar credibilidade aos programas que realmente se encaixem no formato do MBA tradicional. "Os cursos até podem ser focados em alguma área específica, mas precisam ter carga horária geral de 360 com conteúdo voltado para a gestão de negócio", defende Borroni-Biancastelli. "Não temos nada contra esses cursos setorizados, só que muita gente pensa que ele é uma coisa quando na verdade é outra." Para o secretário executivo da Anamba, o selo servirá de base para o executivo na hora de escolher a instituição que atenderá às suas expectativas. "O problema é que cursos de pós-graduação estão sendo lançados no mercado como MBAs e nem de longe atendem aos pré-requisitos do verdadeiro MBA", ressalta. A Universidade Anhembi Morumbi, por exemplo, conta com um total de seis MBAs, todos voltados para áreas específicas, entre os quais moda, vendas, gestão de marcas e marketing. "Eles possuem foco em negócios, onde o aluno sai preparado para atuar na administração desses mercados", afirma Maurício Garcia, vice-reitor da instituição. Com tanta polêmica, ele acha bastante válido a iniciativa da Anamba em ter um selo de qualidade. E inclusive, estuda a possibilidade de entrar na associação. No entanto, Garcia acredita que o Brasil não deve adotar na maioria dos casos o mesmo padrão dos MBAs americanos. "Por que não inovar e oferecer algo que seja acessível aos nosso público?", questiona. Para o vice-reitor da Anhembi Morumbi, o modelo americano implica em gastos acima de US$ 100 mil e exige do aluno total dedicação. "Temos realidades bastante diferentes por aqui e acho que, quanto mais educação as pessoas tiverem, maior será o nível de formação dos profissionais", afirma Garcia. Essa briga, entretanto, promete esquentar ainda mais. Além da Anamba, outro grupo de instituições de ensino superior pretende oferecer um selo de qualidade para cursos de pós-graduação e MBAs: a Anpad (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração). Entre os integrantes está a Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-EAESP), que participou da primeira formação da Anamba. "Já fazíamos parte da Anpad e percebemos que não havia sentido ficar em dois grupos ao mesmo tempo", diz Jacques Gelman, vice-diretor da FGV. Foto: Divulgação

Jacques Gelman, da FGV: Anpad também oferecerá selo de qualidade A Anpad, inicialmente, estabelecerá critérios de avaliação para os cursos de pós-graduação e mais para frente voltará as atenções para os MBAs. "Assumirei uma diretoria que terá o compromisso de ajudar, inclusive, as escolas com deficiência em sua estrutura, com dicas de como melhorar seu conteúdo, o quadro de docentes ou acervo de livros disponíveis", explica Antônio Freitas, diretor executivo da FGV/RJ. De acordo com ele, a Anpad dará esse apoio antes de emitir o selo. "Não vamos simplesmente classificar a escola de má qualidade, sem antes indicar os caminhos para que ela se enquadre nos padrões exigidos", diz. Discussões à parte, há aqueles que preferiram mudar a sigla dos cursos, como a FGV-EAESP e a FIA. Na FGV, por exemplo, o MBA virou MPA - Mestrado Profissional em Administração. "Fomos por esse caminho como forma de nos diferenciar dos demais cursos que se intitulam MBA e na verdade não são", explica Gelman, da FGV. A escola acaba oferecendo um programa que segue a linha dos cursos de pós-graduação, sem foco na parte de pesquisa como costumam ter os de mestrado. Diante de uma movimentação em prol de selos de qualidade para cursos de MBAs, há quem acredite que o mercado é quem deve de fato fazer sua própria escolha. "O executivo sabe diferenciar bons e maus cursos", diz Carlos Longo, diretor da FGV/RJ. "E não adianta querer ter um MBA como aqueles que tiveram início nos Estados Unidos, onde o profissional precisa ficar durante dois anos dentro da escola", afirma. O professor está entre os defensores dos cursos executivos, com carga horária mais flexível. "Dificilmente as empresas decidem bancar cursos onde seus executivos fiquem ausentes por um período de dois anos", diz.