Título: Viúva de Toninho do PT cobra empenho do presidente
Autor: Maria Lúcia Delgado e Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 09/11/2005, Política, p. A4

A viúva do prefeito assassinado de Campinas (SP), Antonio da Costa Santos, o Toninho do PT, reiterou ontem à CPI dos Bingos seu entendimento de que o a morte do marido teve motivações políticas. Para Roseana Morais Garcia, o petista morreu em decorrência de desavenças locais do político com as máfias dos bingos e das empresas de coleta de lixo. Trabalhos realizados por Toninho para derrubar licitações com "cartas marcadas" também foram apontadas por ela como possíveis insatisfações causadas pela administração dele. Durante o depoimento, Roseana fez duras críticas à atuação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem cobrou empenho na descoberta da verdade prometido ainda durante as eleições de 2002. "O presidente esteve em Campinas durante a campanha e prometeu, diante de 25 mil pessoas, que o caso seria solucionado. Até hoje, não aconteceu nada", disse Roseana. "Desde o primeiro momento, pedi que a PF entrasse no caso. Vim a Brasília e me encontrei com o ministro da Justiça na época, Aloysio Nunes. Ele negou meu pedido. No dia da posse do Lula, eu o abracei depois do discurso. Choramos juntos. Tive a certeza de que o governo faria alguma coisa. E nada foi feito", contou a viúva de Toninho do PT. Ela lembrou que fez um abaixo-assinado para entregar ao presidente Lula para pedir a entrada da PF no caso. "Fui a Brasília e ele não quis me receber. O ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) me pediu para receber o abaixo-assinado e que o presidente queria me dar um abraço de companheiro. Eu respondi que não tinha vindo a Brasília para receber um abraço", relatou Roseana. Quando a viúva de Toninho do PT reclamava de Lula e Bastos, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), pediu a palavra. Ele informou à Roseana e aos demais integrantes da comissão que a PF encontrara uma forma de investigar o caso da morte do prefeito de Campinas. Segundo o senador, no dia 14 de setembro, uma comissão do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, ligado à Secretaria de Direitos Humanos do Ministério da Justiça, aprovou uma resolução na qual pede a entrada da Polícia Federal no caso. Foi arrumada uma saída jurídica para os agentes investigarem o caso. "Não era mais possível a PF participar das investigações pois a fase do inquérito policial já havia terminado e só o juiz poderia determinar a entrada da PF. E o juiz não demandou", diz o senador. Mercadante revelou que o conselho aprovou resolução na qual pede a entrada da Polícia Federal no caso da chacina de quatro rapazes em Caraguatatuba (SP). "Como esse crime está relacionado à morte do prefeito, a PF vai investigar tudo", afirmou. Os quatro jovens foram mortos no dia 2 de outubro de 2001, dias depois do assassinato do prefeito. Segundo Roseana, a Polícia Civil de Campinas, em operação "ilegal", foi até a cidade do litoral paulista e executou os rapazes. Pela primeira versão montada para explicar a morte do prefeito, a suspeita recaía sobre quatro rapazes que, em duas motos, passaram pelo carro de Toninho do PT e o mataram. "É uma história fantasiosa. Os quatro meninos prestaram depoimento à polícia e assumiram a autoria do crime. Mas, quando eu fui ler os depoimentos, eles eram idênticos! Eram ? xerox ? um do outro. Qualquer pessoa com o mínimo de inteligência saberia que se tratava de algo sem validade", denunciou Roseana. Em seguida ao depoimento de Roseana, falou à CPI Ivone Santana, ex-namorada de Celso Daniel (PT), prefeito de Santo André assassinado em janeiro de 2002. Diferente da viúva de Toninho do PT, Ivone não crê em crime político no caso do ex-companheiro. Ivone procurou desmontar diversos indícios considerados fundamentais pelo Ministério Público para classificar a morte de Celso Daniel como política. Ela procurou mostrar que os irmãos do ex-prefeito, João Francisco e Bruno Daniel, eram distantes dos assuntos da prefeitura e não conviviam com o ex-companheiro. "Ele não se dava bem com irmãos, sobretudo com João Francisco, com quem tinha divergências políticas", afirmou. Ivone disse acreditar na história contada pelo chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, nas contradições com João Francisco. O irmão de Celso Daniel diz que ouviu de Carvalho uma história de recolhimento de propina na prefeitura. Gilberto nega. Sempre chamando o assessor de Lula de "Gil", Ivone tentou protegê-lo: "Ele era homem de muita confiança e nem tinha motivos para falar com João Francisco sobre um assunto desses". Disse, entretanto, ter uma reclamação sobre a conduta de Carvalho no caso. "O Gil colocou na cena os irmãos como se representassem a família do Celso. Eu fiquei velando o corpo e as pessoas fazendo outras coisas. Quem deu legitimidade para os irmãos representarem a família foi o Gil", disse ela. A versão de Ivone foi contestada pelo presidente da comissão, Efraim Moraes (PFL-PB), e o relator, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN). O relator disse que, a despeito das negativas de Ivone, continua trabalhando com a tese de que o crime em Santo André foi premeditado. "Eu acredito na versão de crime planejado", declarou: "Eu não concordo com a versão dela. (Com agências noticiosas)