Título: Entrevista acirra ânimos na oposição
Autor: Maria Lúcia Delgado e Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 09/11/2005, Política, p. A4

Crise Declarações de Lula ao "Roda Viva" levam PSDB e PFL a aumentar o tom das críticas e atacar o presidente

A entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao programa "Roda Viva", da TV Cultura, acirrou ainda mais os ânimos entre governistas e oposicionistas no Congresso e deu fôlego para mais um dia de tumultuadas e sucessivas trocas de farpas entre parlamentares no Congresso. A reação dos dois lados era previsível: para os governistas, Lula foi transparente e firme. Já a oposição foi implacável nas críticas: o presidente foi vazio, dissimulado, insincero, agressivo, arrogante, patético. Uma ala do PT considerou que Lula, merecidamente, atacou o PFL e, no balanço geral, foi equilibrado. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso atacou as bandeiras da gestão de Lula: a política econômica e o Bolsa Família. Para o tucano, Lula deveria ter mais "modéstia": "O presidente Lula poderia ter uma certa modéstia, ou melhor, veracidade. Só estou vendo ele colher frutos que nós plantamos, não só eu, mas o presidente Itamar Franco, que também veio do governo Collor, do trabalho que nós tínhamos que fazer. Nós fomos fazendo, acho bom que ele tenha continuado, mas não dá para fazer de conta que antes estava tudo errado, que começa de agora porque o passado estava todo errado e pela primeira vez o Brasil...", disse em entrevista à rádio CBN. O presidente do PSDB e prefeito de São Paulo, José Serra, engrossou o coro: "Daqui a pouco ele vai dizer que descobriu o Brasil". E ironizou: "Até as paredes do Congresso sabem que existia mensalão". Os discursos mais duros contra Lula partiram da cúpula do PSDB e PFL. O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), disse que Lula foi tão patético que "rebaixou a majestade presidencial", mostrando-se mais uma vez totalmente despreparado para ocupar o mais alto posto da nação. "O presidente foi banal, pequeno, vazio. Mentiu ao reafirmar que de nada sabia, ao negar o caixa 2, uma prática que, anteriormente, em França, considerou corriqueira", criticou. A oposição enfatizou ainda que Lula parece estar desconectado da realidade, já que ex-dirigentes do PT confessaram a existência de um esquema para distribuir dinheiro a aliados, com intenção de pagar dívidas e acordos eleitorais. O PFL reagiu em tom de fúria. Lula disse que chega a ser hilariante a tentativa dos pefelistas de patrocinarem o impeachment dele. "Nós queremos o impeachment nas urnas. O PT, que fez tanto mal a esse país, vai desaparecer", sentenciou o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). Para o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), Lula "desconhece até a Constituição": "Nas críticas ao PFL ('falta autoridade política para pedir o impeachment') mostrou desconhecer as leis e a Constituição que jurou cumprir , porque um partido político não tem competência legal para ingressar com um pedido de impedimento. A falta de habitualidade de leitura justifica seu erro." No programa nacional do partido, que foi ao ar ontem a noite, o PFL usou como bordão "Governo Lula e PT: um péssimo exemplo para o Brasil". E por meio de uma fábula, acusaram Lula de vaidoso, alienado e emplacaram: "O rei está nu". Enquanto os oposicionistas criticavam Lula, nenhum governista estava presente no plenário do Senado. O líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), foi à tribuna defender o presidente e disse que Lula respondeu a todas as dúvidas e indagações com clareza, transparência e absoluta sinceridade. O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini, procurou não falar do distanciamento de Lula ao PT. "À medida que o presidente tem se relacionado com a crise pontualmente, creio que ele faz o papel de estadista. E deve deixar o varejo da crise para o Congresso. O presidente do país não pode se confundir com isso". Defendido por Lula, o deputado e ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (SP), o elogiou e atacou a oposição, que não estaria agindo de acordo com as regras mínimas de "civilidade" e tentam " inviabilizar o país".(Com agências noticiosas)