Título: Sigilo de Duda no exterior chega à Polícia Federal e ao MP
Autor: Juliano Basile
Fonte: Valor Econômico, 09/11/2005, Política, p. A5
Crise Ministério da Justiça nega que tenha atrasado liberação de dados
O governo quer garantir o sigilo absoluto de oito caixas repletas de documentos com detalhes de movimentações financeiras do publicitário Duda Mendonça no exterior. Mas, o material, visto por jornalistas e políticos, foi enviado para o Ministério Público e a Polícia Federal - instituições conhecidas por vazarem investigações envolvendo políticos. "O sigilo é essencial para as investigações", disse o diretor do Departamento de Recuperação de Ativos Ilícitos (DRCI) do Ministério da Justiça, Antenor Madruga, em entrevista ontem, onde as oito caixas ficaram de um lado da sala e uma dezena de repórteres de outro. A documentação de Duda pode mostrar através de quais empresas e pessoas (políticos e empresários, em especial), o publicitário recebeu para fazer não apenas a campanha do presidente Lula, em 2002, mas as campanhas do ex-prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, e do atual governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz. Indagado se pode conter a prova do caixa 2, a secretária Nacional de Justiça, Cláudia Chagas, respondeu: "Nós desconhecemos o teor dos documentos". O DRCI e o Ministério da Justiça foram acusados por um relatório interno da PF de atrasar o andamento da documentação de Duda. Madruga negou veementemente essa versão, alegando que o que houve foi uma "divergência técnica". A PF queria obter a documentação diretamente dos EUA, mas o Ministério da Justiça criou um sistema de cooperação internacional pelo qual o DRCI recebe as informações sobre possíveis crimes financeiros no exterior e repassa os dados para as instituições responsáveis por investigar no Brasil. Segundo ele, o DRCI obteve os documentos em tempo recorde: três semanas. Agora, o departamento diz que não pode enviar os documentos à CPI do Mensalão, porque as autoridades dos EUA não reconhecem as CPIs como instituição de investigação. O próprio DRCI diz que recorreu dessa decisão. Existem três cópias da documentação de Duda: uma foi enviada à PF, outra ao MPF e uma terceira ficará no DRCI à espera de um posicionamento do Departamento de Justiça dos EUA sobre a remessa ou não à CPI. Na PF, o delegado Luiz Flávio Zamprogna terá de assinar um termo se comprometendo a resguardar o sigilo. No Ministério Público, o procurador Edson Almeida fará o mesmo.