Título: EUA elogiam, mas UE acha tímido o aceno de Amorim
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 09/11/2005, Especial, p. A

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, defendeu ontem o corte de 50% nas tarifas de importação de produtos industriais, mas a Argentina quer discutir a questão internamente no Mercosul. Segundo diplomatas, o corte teria efeito sobre 2.500 das 8.800 linhas tarifárias do Brasil. Elas cairiam, ficando abaixo da média de 10,8% efetivamente aplicada pelo país - ou seja, o corte iria permitir uma melhora real no acesso de fornecedores estrangeiros ao mercado brasileiro. O Brasil fez a proposta na segunda-feira em negociação com os Estados Unidos, União Européia (UE), Índia e Japão, em Londres, condicionada à contrapartida da UE com corte de 54% médio nas tarifas agrícolas. Amorim ontem parecia mais entusiasmado pelo seu movimento, apesar da reação glacial da Europa, que aparentemente duvida de ganho nessa barganha. Segundo Amorim, a oferta brasileira "implicaria redução nas tarifas consolidadas (o máximo que o país pode aplicar) e alguma redução num número importante de tarifas aplicadas". Ele disse que colocou a "idéia" na mesa para provocar mais abertura na área agrícola por parte da Europa e dos Estados Unidos. Mas, como não obteve resposta, considera que "não pode ser oferta". As reações foram diferenciadas na OMC. O negociador comercial chefe dos Estados Unidos, Robert Portman, reafirmou que Amorim foi "construtivo" ao começar a falar especificamente sobre o que o Brasil pode fazer em outras áreas da negociação. "É isso que deve ser a rodada, com barganhas e trocas", disse. Já um representante da UE acha que a proposta brasileira na verdade não corta nada em comparação com a tarifa realmente aplicada pelo país. Por sua vez, o secretário de Comércio Exterior da Argentina, Alfredo Chiaradia, lembrou que o Mercosul tem Tarifa Externa Comum (TEC) e o assunto precisa ser discutido no bloco. Ele indicou que a Argentina não foi consultada, mantém a proposta Abi (Argentina, Brasil e Índia) e sua prioridade é claramente assegurar flexibilidade para cortar menos as tarifas nos setores industriais sensíveis - nada realmente diferente do que o Itamaraty defende. "O que posso antecipar é que necessariamente o impacto de fórmula em produtos industriais não pode ser superior ao impacto na agricultura", disse Chiaradia. Negociadores consideram que o Brasil fez um gesto importante para estimular os setores industriais e de serviços na Europa a se contraporem ao lobby agrícola e tentarem influenciar uma posição menos rígida de Bruxelas na agricultura. Além disso, fontes de Brasília dizem que o Ministério da Fazenda tem todo interesse em fazer redução tarifária para aumentar a eficácia da economia, preferencialmente através da Rodada Doha. Senão, isso seria necessário para "reduzir o custo da ineficácia de certos setores". O ministro de Comércio da Índia, Kamal Nath, disse que a oferta brasileira dependerá das contrapartidas que eventualmente forem dadas pelos outros países.(AM)