Título: Acordo em sensíveis será difícil
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 09/11/2005, Especial, p. A

Um dos temas que mais interessa ao Brasil - a negociação de produtos sensíveis do setor agrícola - promete ser uma das mais complicadas. Faltando pouco mais de um mês para a reunião ministerial de Hong Kong, as posições dos países sobre esse tema ainda parecem inconciliáveis. Fontes do setor agrícola brasileiro admitem que, mais importante do que o número de produtos sensíveis, será o tamanho das cotas oferecidas, principalmente pela União Européia. Permitir que mais de 2% das linhas tarifárias seja considerada sensível é suficiente para excluir todos os produtos que interessam ao Brasil. As tarifas dos sensíveis não serão cortadas, mas os países terão que oferecer cotas em compensação. Três produtos interessam muito aos brasileiros e seguramente devem ser considerados sensíveis pela UE: carne bovina, carne de frango e açúcar. Uma fonte próxima à negociação informou que o G-20, grupo de países em desenvolvimento liderado pelo Brasil, está pedindo cotas equivalentes a 6% do consumo da UE de carne bovina e carne de frango. A Austrália é ainda mais ambiciosa e solicita cota equivalente a 10% do consumo doméstico. Os pedidos estão absolutamente distantes do que oferecem os europeus. Por meio de um cálculo intrincado, a UE propõe cota equivalente a algo entre 0,3% e 0,6% do seu consumo doméstico de carne bovina e carne de frango. No caso do açúcar, os europeus colocaram na mesa cota que significa entre 0,9% e 1,9% do seu consumo. A União Européia importa atualmente 240 mil toneladas de carne bovina por ano, 250 mil toneladas de carne de frango e dois milhões de toneladas de açúcar. (RL)