Título: Ricos pedem fundo para os mais pobres
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 09/11/2005, Especial, p. A

A União Européia (UE) e os Estados Unidos querem aprovar um fundo de ajuda para os países em desenvolvimento mais afetados pela liberalização comercial, no mês que vem, para conter crises adicionais na conferência ministerial de Hong Kong. Peter Mandelson, o comissário europeu de comércio, insistiu na urgência de um programa que o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) preparam, com recursos iniciais de US$ 400 milhões, para que os países mais pobres melhorem sua infra-estrutura e modernizem as aduanas, por exemplo. Hoje, o principal negociador comercial dos EUA, Robert Portman, vai a Burkina Fasso, país que ao lado de Benin, Chade e Mali, pede data para eliminação de subsídios ao algodão. Esse grupo de países também quer compensações pelo que deixam de ganhar devido às subvenções que derrubam os preços mundiais - e algo pode vir do FMI. Esses países alertam que, se nada for feito para atender seus interesses em Hong Hong, vão bloquear as negociações globais. Por sua vez, o Brasil, no meio de negociação crucial da rodada, tomou a iniciativa de organizar em Genebra um curso de política comercial para 30 técnicos dos países de língua portuguesa. Faz parte da assistência técnica que pode estender a outras nações em desenvolvimento. O Itamaraty sinaliza também com disposição de facilitar as importações de produtos originários dessas nações. Toda essa movimentação reflete o novo ambiente na OMC. No passado, EUA e UE faziam o que queriam na entidade. A relação de força foi alterada com a criação do G-20, sob a coordenação do Brasil. Agora os mais pobres também se organizam com ajuda de ONGs e querem ser ouvidos. Bruxelas e Washington constatam que o ceticismo sobre liberalização persiste nos países mais pobres, que podem frear consenso nas discussões da OMC. Essas nações temem a erosão das preferências comerciais que têm hoje. Exportam boa parte de seus produtos livres de tarifas. Só que, na medida em que as alíquotas diminuírem na UE e nos EUA, a concorrência vai aumentar. (AM)