Título: Depósito de US$ 62 milhões deve evitar arresto na Varig
Autor: Cláudia Schüffner e Janaina Vilella
Fonte: Valor Econômico, 09/11/2005, Empresas &, p. B3

Aviação

Os US$ 62 milhões que a Varig precisa para evitar a retomada de 40 aviões por ordem da Justiça americana vão amanhecer hoje depositados em uma conta vinculada em Nova York, mas ainda não há definição sobre a estratégia para a segunda fase de recuperação da companhia-mãe. Ontem, o financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para aquisição das subsidiárias da Varig, a VarigLog e a VEM por US$ 62 milhões foi assinada na sede do banco. O presidente do banco, Guido Mantega destacou o esforço conjunto em torno da operação. Já o presidente da TAP, Fernando Pinto, disse que havia a expectativa em Nova York de que o negócio seria inviável devido ao prazo, que se encerra hoje e completou: "Eles não sabem do que os brasileiros são capazes". Também estavam presentes os juízes da 8ª Vara Empresarial, encarregados do processo de recuperação judicial da companhia, Márcia Cunha e José Roberto Ayoub. Hoje, em audiência em Nova York comandada pelo juiz Robert Drain, a Varig terá que comprovar o depósito para evitar o arresto de aviões da companhia. Superada essa fase e tendo início as negociações para uma parceria estratégica da Varig com a TAP, o futuro da companhia ainda parece incerto. O presidente do BNDES avalia que a compra das duas empresas - VarigLog e da VEM - vai dar fôlego financeiro para que "a outra parte da Varig possa se programar para a etapa subseqüente". Mantega disse, entretanto, que o banco ainda não foi chamado para a segunda etapa da recuperação da Varig. E informou desconhecer a existência de um plano, lembrando também que quando houver um, o BNDES pode ser acionado ou não. Sem contar ainda com o banco estatal no próximo estágio da recuperação judicial, e considerando que a Varig tenha sucesso na audiência hoje em Nova York, o que se percebe são muitas indefinições quanto ao volume e o prazo para um novo aporte de recursos. Ontem, Fernando Pinto reiterou a intenção de investir, junto com sócios cerca de US$ 500 milhões na Varig, mas não existe ainda uma garantia firme de investimentos. Esse montante, segundo Pinto foi definido com base na intenção da TAP e "sensibilidade dos investidores que estão dispostos a aportar isso" e de que "é esse o valor crítico para fazer o retorno total da Varig à normalidade". De concreto no momento a Varig deve receber em dinheiro "novo" cerca de US$ 40 milhões, previstos no acordo com a TAP, que vai antecipar recebíveis de cartões de crédito. É com esse dinheiro, já que os US$ 62 milhões irão para as empresas de leasing, que a companhia aérea terá que colocar para voar cerca de 14 aviões que estão parados por falta de peças ou manutenção, permitindo aumento na geração de caixa. A TAP propriamente dita vai aportar US$ 3,09 milhões na compra das subsidiárias. O restante vem do sócio chinês , Stanley Ho, e do BNDES. Questionado sobre o prazo em que se fará o novo aporte na Varig, Pinto lembrou que o processo de compra da VarigLog e da VEM se encerra em 90 dias. Caso o valor das subsidiárias seja maior que o valor pago pela TAP, outras empresas poderão apresentar propostas. E caso surja uma oferta maior que a da TAP, e esta decida não fazer uma contraproposta, receberá US$ 12,4 milhões. Esse é o valor do prêmio equivalente a 20% do capital inicialmente investido pelos portugueses. Mas Fernando Pinto frisou que o interesse maior da TAP é na Varig, deixando claro que os planos são ambiciosos. "Nosso interesse é trazer investidores para um processo muito mais importante que nós queremos, gostaríamos e imaginamos fazer após essa primeira etapa, que é um investimento maior na malha de transporte aéreo." Pinto disse que recebeu elogios de investidores que consideraram "criativa" a decisão da portuguesa de não procurar um vizinho - em referência às associações entre KLM e Air France e a Lufthansa e Swiss - mas sim uma companhia "do outro lado do Atlântico" para se associar. A compra da VarigLog e da VEM pela TAP será feita por meio de uma empresa portuguesa, a Reaching Force, fruto de uma associação da TAP com a chinesa Geocapital, presidida pelo chinês Stanley Ho e que também tem como sócios a Sociedade de Turismo de Macau (STDM), a Shun Tak Holdings e o banco Seng Heng. A Reaching Force, por sua vez, vai deter 20% do capital votante da Aero-LB, empresa brasileira formada exclusivamente para o investimento na Varig. Para atender exigências do Código Aeronáutico, que não permite a uma empresa estrangeira ter mais de 20% em companhia aérea, a Aeros-LB será controlada por dois brasileiros: Alberto Camões e Álvaro Gonçalves.