Título: Livre de gripe aviária, Brasil consolida liderança no mercado externo de aves
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 09/11/2005, Agronegócios, p. B12

Já encarada com preocupação pelo setor avícola brasileiro pelos efeitos que pode trazer à produção e às vendas externas no futuro, a gripe aviária até agora tem sido benéfica ao país. Neste ano, a participação do Brasil no mercado internacional de carne de frango está crescendo sete pontos percentuais, para 43%, graças ao avanço sobre mercados antes atendidos pela Ásia. De acordo com dados da União Brasileira de Avicultura (UBA) e da Abef (reúne os exportadores), as exportações brasileiras de frango devem atingir 2,9 milhões de toneladas em 2005, ante 2,4 milhões no ano passado. Entre janeiro e outubro, os embarques cresceram 17,7%, para 2,03 milhão de toneladas. Líder de mercado desde o ano passado, o Brasil eleva o volume de exportações em um mercado que neste ano deve permanecer estagnado em 6,8 milhões de toneladas, de acordo com dados da FAO - braço internacional das Nações Unidas para alimentação e agricultura. "O frango brasileiro ganhou destaque por ser um produto livre de risco da gripe aviária", afirma Clóvis Puperi, diretor-executivo da UBA. Para ele, enquanto a doença não chegar ao país, haverá espaço para as vendas no mercado externo. Puperi observa que o país ganhou espaço principalmente a partir de 2003, quando os países da Ásia registraram os primeiros casos da gripe aviária e começaram a perder participação no mercado internacional. Puperi ressalta que um dos principais efeitos da gripe aviária tem sido o aumento dos preços internacionais. Segundo dados da Secex, o preço médio da carne de frango exportada pelo Brasil subiu 32,9% em outubro frente a igual mês de 2004, ficando em US$ 1.319,70 por tonelada FOB (free on board). No mês, a receita com embarques cresceu 54,5%, para US$ 351,8 milhões, e no ano aumentou 33,4%, para US$ 2,862 bilhões, conforme a UBA.

A participação do Brasil está crescendo 7 pontos percentuais no mercado mundial de frangos, que neste ano ficará estável

Mesmo a demanda no mercado interno, segundo Puperi, não sofreu impactos por conta das notícias sobre a doença. Ainda ontem, segundo a agência O Globo, a suspeita de um caso na região metropolitana de Belo Horizonte foi descartada. A produção nacional cresceu 8,86% entre janeiro e outubro, para 7,64 milhões de toneladas, sendo que a produção para consumo no mercado interno aumentou 5,88%, para 5,34 milhões. Já no mercado externo, as notícias de queda da demanda na Ásia e Europa já começam a ser avaliadas pelas indústrias do Brasil, tendo em vista que as duas regiões respondem por 29% e 16% das exportações, respectivamente. Mesmo em sigilo, as empresas já começam a traçar estratégias para fazer frente ao avanço da gripe aviária no mundo. A Sadia informou que está reforçando o controle sanitário. A partir deste mês, toda visita a granjas foi proibida. Nas instalações industriais, o acesso é restrito e só permitido após quarentena. Os veículos que chegam às indústrias também passam por processo de desinfecção. As aves, serão submetidas a maior número de exames de sangue para controle do status sanitário. As mesmas exigências foram impostas aos produtores integrados à empresa. Luiz Murat, diretor financeiro, disse que a empresa pode postergar investimentos em um complexo industrial em Lucas do Rio Verde (MT), caso o governo não adote a regionalização sanitária a partir de 2006. Érico Pozzer, presidente da Associação Paulista de Avicultura (APA), diz que as indústrias paulistas já estão promovendo uma série de ações para aumentar a biossegurança das granjas, como a quarentena, restrição de visitas, desinfecção de caminhões, proibição de criação de aves por funcionários das granjas. "As empresas também negociam com seus vizinhos o fim da criação de aves nas pequenas chácaras", diz Pozzer. Também está proibida a produção, pelos avicultores integrados, de aves aquáticas (patos, gansos e marrecos), hoje principal agente de transmissão da doença no exterior. A Cooperativa Agropecuária Holambra, onde Pozzer é gerente-geral, também está realizando este trabalho. Procuradas pelo Valor, Perdigão e Doux Frangosul não quiseram falar sobre o assunto.(CB e FL)