Título: Dólar pode ir a R$ 2; euro cai 28% no ano
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 09/11/2005, Finanças, p. C2

Sem o leilão de swap reverso do Banco Central, por meio do qual a autoridade monetária compra dólar no mercado futuro, o dólar deve continuar a cair, segundo especialistas do mercado. A grande discussão, ontem, era qual seria o limite para a queda - se a barreira psicológica de R$ 2 ou não. "Enquanto as taxas de juros brasileiras continuarem muito altas e o balanço de pagamentos, confortável, o dólar está condenado a cair", disse Luís Fernando Lopes, economista-chefe do Banco Pátria. Ontem, em sua sétima queda consecutiva, a moeda americana rompeu os R$ 2,20 e foi a R$ 2,1940, seu menor valor desde 19 de abril de 2001, apesar da compra do Banco Central no mercado à vista, que está, segundo Lopes, apenas amortecendo o movimento. Mesmo o leilão de swap reverso, acredita Lopes, iria deter o tombo na moeda americana. Ontem, o BC informou que não vai fazer o leilão nesta semana, diferentemente do que esperavam alguns investidores. A decisão da agência de risco de crédito Standard & Poor's, de mudar a perspectiva para a nota da dívida externa brasileira de estável para positiva, indicando tendência de aumento na nota no curto prazo, contribuiu mais para o otimismo e aumentou o movimento de valorização do real. Os exportadores, com medo de queda maior nas cotações, saíram vendendo e os importadores seguraram suas compras, esperando por um preço melhor no futuro. Mas, diferentemente do que aconteceu no ano passado, a queda no dólar de 17,29% no ano não está sendo compensada pela valorização do euro e outras moedas fortes na comparação com o dólar. Pelo contrário - o fato de os juros estarem subindo nos Estados Unidos e não estarem em alta na Europa cria uma diferença de taxas que tem favorecido o investimento em dólar e a venda do euro. Para operações de curtíssimo prazo livres de risco, os juros nos Estados Unidos estão a 4% ao ano, contra 3% na Europa. Ontem, os conflitos em Paris aprofundaram o movimento de venda do euro, que chegou a US$ 1,1710, seu menor valor em dois anos -desde 13 de novembro de 2003. O real ganhou duplamente, contra o dólar e contra o euro. A moeda da União Européia teve desvalorização de 0,5% ontem em relação à moeda brasileira, acumulando uma queda de 28,81% ao ano. O impacto nas exportações à Europa ainda não se fez sentir, segundo Lopes, pois há uma demora de dois a três trimestres entre a estabilidade na alta da cotação e o impacto nas vendas externas. Além disso, exportadores também são importadores de insumos da Europa, lembra um especialista.

Juro menor à espera da produção industrial

Para Lopes, a declaração do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, publicada nos jornais de ontem, de que a economia desacelerou, é uma indicação de que a tão esperada produção industrial de setembro, a ser divulgada hoje, pode ser pior do que a estimada. Lopes acredita em uma queda de 0,6%. Mas, segundo ele, qualquer número próximo a 1% vai resultar em um Produto Interno Bruto com crescimento muito perto do zero no terceiro trimestre. "Crescimento zero do PIB é estagnação", afirma. Se os números da produção industrial realmente surpreenderem, a discussão sobre a necessidade de manter juros básicos tão elevados vai crescer, e o mercado pode ampliar mais a já forte queda nas taxas de juros futuros. Ontem, o contrato mais negociado, de janeiro de 2007, projetava juros de 17,21% ao ano, na comparação com os 17,56% do final do mês passado e os 17,28% de anteontem.