Título: IPCA tem alta de 0,75% em outubro, mas inflação arrefece no início de novembro
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 11/11/2005, Brasil, p. A2

Aumentos pontuais nos custos de transportes e no preço da carne bovina pressionaram a inflação em outubro e levaram o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) a variar 0,75%, bem acima das expectativas do mercado. No entanto, dois indicadores preliminares do mês de novembro já sinalizam que as pressões foram passageiras e a inflação tende a voltar para a casa dos 0,4% nos próximos dois meses. O Índice de Preços ao Atacado (IPA), da primeira prévia do IGP-M de novembro, cedeu de 0,25% para 0,13%. Os preços agrícolas no atacado contribuíram quase que isoladamente para esse resultado, com 0,12 ponto percentual, influenciados, principalmente, pela alta no preço da carne bovina. Os industriais, por sua vez, ficaram estáveis. E não foi apenas pela diluição do impacto do aumento dos combustíveis. De acordo com cálculos do economista Fernando Fenolio, da Rosenberg & Associados, quando se excluem combustíveis e alimentos industrializados, o IPA industrial apresenta variação zero. Salomão Quadros, coordenador de análises da Fundação Getúlio Vargas (FGV), afirma que a tendência dos preços industriais é de desaceleração. "Os insumos estão com preços comportados, mesmo que a valorização do real ante o dólar já tendo alcançado seu auge de efeito sobre a inflação", diz. O item que reúne materiais para manufatura, como produtos químicos, borracha, celulose e metais não-ferrosos teve ligeira deflação de 0,05%, ante estabilidade de preços em outubro. Até mesmo as carnes industrializadas, que subiram devido ao período de entressafra e da descoberta de focos de aftosa no país, estão com preços em queda. Nessa primeira medição, esses produtos tiveram variação negativa de 2,15%. "É a primeira notícia de sinais de que pelo menos a trajetória de alta foi interrompida", diz o economista. Outro dado que aponta para um cenário mais tranqüilo para a inflação neste mês é a variação de 0,59% no Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da cidade de São Paulo, medido pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). O indicador, referente à primeira quadrissemana de novembro, ainda veio pressionado pelo reajuste da gasolina e dos preços da carne bovina. Até o fim do mês, no entanto, esses impactos tendem a ceder e o IPC deve fechar em 0,5%. O núcleo do IPC, medida que exclui os itens mais voláteis, está em 0,35%, o que indica que as elevações são pontuais. Mesmo com uma previsão menor para o IPCA de novembro, os economistas revisaram a projeção para o indicador no ano. A LCA Consultores estima agora uma taxa de 5,3%, ante número de 5,1%. Alex Agostini, da Austin Rating, subiu a estimativa para 5,6%, enquanto a Rosenberg deve elevar sua expectativa para algo entre 5,5% e 5,6%, bem acima do atual 5,1%. "Nem mesmo a forte valorização do real frente ao dólar e a queda dos preços dos grãos no atacado foram capazes de evitar que a inflação superasse a meta", analisa Agostini. Queda que foi repassada aos consumidores, uma vez que o grupo de alimentos e bebidas no IPCA apresentou deflação por quatro meses seguidos. No entanto, para Fenolio, a inflação do começo do ano foi muito forte e dificultou o cumprimento da meta.