Título: PT pede ao TSE reexame das contas eleitorais de Serra
Autor: Thiago Vitale Jayme e Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 11/11/2005, Política, p. A6

O PT partiu para o contra-ataque. Na manhã de ontem, o partido apresentou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) um pedido de reexame das contas do PSDB e a suspensão do repasse do fundo partidário por conta de suposto caixa 2 utilizado na campanha de José Serra à Presidência da República, em 2002. Segundo a denúncia formulada pelos petistas, há grande diferença entre os valores declarados referentes aos serviços prestados por duas empresas e o montante reivindicado por essas mesmas companhias em ação na Justiça contra a legenda. Os petistas apresentaram ao TSE cópias dos autos de um processo movido pelas empresas Intertrade Brasil Telecomunicações Multimídia Ltda. e Computer Graphics Produções Cinematográficas Ltda. contra o PSDB. Na ação judicial, as empresas fazem a cobrança do pagamento de dez notas fiscais. Segundo a denúncia formulada pelo PT, tais documentos não constam da prestação de contas apresentada pelos tucanos ao TSE. O partido de Serra reconhece apenas a existência de cinco recibos - de R$ 2,4 milhões para a Computer Graphics e R$ 700 mil da Intertrade. "Vale dizer, tratam de recursos utilizados pelo PSDB na campanha eleitoral sem declaração de origem e destinação na respectiva prestação de contas, portanto, recursos não contabilizados", escreveu o advogado Márcio Luiz Silva, representante do PT, na petição encaminhada à corte. O presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), assegurou que a decisão do partido de solicitar um novo exame da prestação de contas do PSDB referente à campanha presidencial de 2002 não se trata de revanche política. "Não estamos na linha de vingança, mas decidimos exigir que a lei seja a mesma para todos os partidos políticos", justificou. Segundo o petista, o PT tem consciência de sua história, de seus valores, falhas e acertos. "E não vamos aceitar que um partido que levou ao alto índice de desemprego neste país fique nos dando lição de moral", afirmou. O líder petista na Câmara, Henrique Fontana (RS), destaca também os demais indícios já apresentados e revelados pelas CPIs da existência de caixa 2 na campanha do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) ao governo de Minas Gerais, em 1998. "Diante do caixa dois do senador Eduardo Azeredo, o PSDB acha que não deve ser feito nada. Este tipo de posição não é aceitável nem razoável", concluiu Fontana. O gesto do PT provocou reação imediata no PSDB. Tucanos e pefelistas já tinham solicitado, na Justiça Eleitoral, o bloqueio do repasse do fundo partidário ao PT em 2006 com base em denúncias de que o partido fez caixa 2 na campanha presidencial passada e teria recebido doações ilegais, inclusive de estatais e do exterior. Ontem, os tucanos consideraram a atitude do PT cômica. "Eles são cômicos se não fossem trágicos, tamanha a corrupção que instalaram no país", ironizou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). Já o futuro presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), afirmou que o PT está apelando para o cinismo. "Isso é ridículo. O Maluf conseguiu ser superado", afirmou. O deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ), prestes a assumir a Secretaria Geral do partido, afirmou que os tucanos não temem nenhuma auditoria em suas contas, ao contrário do PT. "Eles tentam justificar os erros deles sempre inventando erros para os outros", criticou. Se a ação petista for acatada pelo TSE, o PSDB não só poderá perder o direito ao fundo partidário como poderá ter o registro cassado.