Título: Em campanha, presidente reforça identidade com pobres
Autor: Claudia Safatle, Cristiano Romero e Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 11/11/2005, Política, p. A9
Os ricos do Brasil já conquistaram seu espaço. Agora é a hora de os pobres conquistarem definitivamente o deles. O aviso é do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que ontem, em Teófilo Otoni, no Norte de Minas, retomou um discurso de campanha, de identidade com os pobres. Falando de improviso, Lula disse que os presidentes que o antecederam provavelmente são mais cultos, leram mais livros e são até são mais inteligentes: "O que eles não tinham era uma ligação sentimental e de coração com os problemas do povo, é uma coisa chamada liga, sangue". Lula esteve na cidade mineira administrada pelo PT para anunciar a liberação de R$ 8 milhões para a criação do campus local da Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha e Mucuri, uma promessa de campanha. E encontrou na frente da prefeitura, onde foi armado o palanque, uma platéia de cerca de 5 mil pessoas, segundo estimativa da Polícia Civil, a seu favor. Não houve protestos. Nem menção à crise política. Citando o projeto de criação do Fundeb, um fundo para o desenvolvimento do ensino básico, que está em tramitação no Congresso, Lula disse que foi preciso um metalúrgico para fazer o que os professores que passaram pela Presidência tinham de fazer e não fizeram. "Eu sei o que significa uma escola para uma criança, eu sei o que significa para uma mãe ter um filho trabalhando mesmo para ganhar um pouquinho só pelo fato dele não estar na rua." Segundo Lula, não houve nenhum outro governo que se preocupasse com o povo pobre como o dele tem se preocupado. Ele garantiu que, até o ano que vem, todas as famílias pobres do país serão atendidas pelos programas sociais como o Bolsa Família. "Nós sabemos que isso incomoda algumas pessoas", afirmou. "Porque neste país isso era uma tarefa muito difícil, era melhor esquecer dos pobres e fazer as coisas apenas para aqueles que já tinham alguma coisa." Segundo o presidente, o povo não deve ficar preocupado quando vê político xingando político. "Faz parte da cultura política", explicou. "A única coisa que vocês têm de ter certeza é que vocês elegeram para a Presidência da República não um presidente, um companheiro e que sei da vida de cada um de vocês." Lula não perdeu a oportunidade de mais uma vez mandar recado para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e os tucanos, insinuando que eles torcem contra seu sucesso para que tenham chance de voltar ao governo. "No Brasil, quando uma prefeita é eleita, um governador é eleito, ou um presidente é eleito, aqueles que perderam ao invés de ficar torcendo para que ele faça bem, fica torcendo para que ele dê um azar e não faça nada, para justificar a volta dele." Lula costuma dizer que, como nordestino, se identifica muito com as regiões do Vale do Jequitinhonha e do Vale do Mucuri, no norte de Minas. E fez questão de percorrer a região nas campanhas eleitorais e na sua Caravana da Cidadania. A prefeita de Teófilo Otoni, a professora Maria José Haueisen, ele conheceu em 1980, quando esteve pela primeira vez na cidade para fundar o PT. Num ambiente tão favorável ao petista, o governador de Minas, o tucano Aécio Neves, preferiu não participar da solenidade. Ligou na noite de quarta-feira para o presidente, alegando motivos de agenda. Da última vez que estiveram juntos num palanque, diante de platéia organizada pela CUT, Aécio foi vaiado. Foi preciso que o próprio Lula intercedesse a seu favor.