Título: Lula pede que ministros parem de brigar
Autor: Claudia Safatle, Cristiano Romero e Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 11/11/2005, Política, p. A9

Crise Palocci esperava que o presidente repreendesse Dilma pelas críticas ao programa fiscal de longo prazo

A situação do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, piorou ontem. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em encontro com o ministro, determinou a ele que adie a discussão sobre um programa fiscal de longo prazo; e aconselhou a ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que "baixasse a bola" nas críticas que vem fazendo a política econômica em geral, e à proposta de um novo programa fiscal em particular. A atuação de Lula não foi suficiente para reanimar o ministro. Palocci esperava uma atitude mais forte do presidente em relação ao episódio em que Dilma desautorizou o debate em torno do programa fiscal e fez duras críticas à condução da política econômica. As conversas ocorreram em reuniões separadas e Lula tentou botar panos quentes nas divergências. Palocci, porém, continua examinando a possibilidade de deixar o governo. A interlocutores, o ministro externou o desejo de comparecer ao Congresso Nacional para dar explicações às inúmeras suspeitas de corrupção que rondam seu período de mandato como prefeito de Ribeirão Preto e, depois disso, ir embora. Ainda que nada disso ocorra, um fato já aconteceu: as relações de Dilma, Palocci e Paulo Bernardo, ministro do Planejamento, estão trincadas. Bernardo vinha defendendo abertamente as medidas de um programa fiscal de dez anos, que constariam de uma emenda constitucional a ser costurada politicamente ainda este ano. Ele também foi chamado pelo presidente, na quarta-feira. A conversa entre Palocci e Lula foi franca e o presidente prometeu que teria uma nova conversa com Dilma. De acordo com um assessor do Palácio do Planalto, Lula foi explícito: ele é o alvo. O caminho para atingi-lo são as divergências entre os ministros que fragilizam o governo e alimentam o pesado jogo das oposições. Lula tentou colocar ordem na casa e pediu para que cada um cuidasse da área que lhes compete: Dilma, da execução da máquina governamental; Bernardo, das políticas de planejamento e o projeto de ajuste fiscal, que continuará sendo discutido; e Palocci, a política econômica de forma geral. As queixas dos integrantes da própria base aliada no Congresso contra a excessiva rigidez orçamentária de Palocci tem se intensificado desde que a área econômica começou a se exceder no superávit primário. Em jantar na noite de quarta-feira, na residência do líder do governo no Senado, Ney Suassuna, a bancada do PMDB no Senado expôs todas as suas reclamações à ministra Dilma Rousseff. As queixas se referem à execução orçamentária. A um mês e meio do término do ano, o governo liberou apenas 0,36% das emendas parlamentares. Até o ex-presidente do Senado, José Sarney (AP), tem demonstrado impaciência com o arrocho fiscal promovido pelo Ministério da Fazenda. "Em matérias de relacionamento, Palocci tem demonstrado uma face gélida. Ele é mais insensível que seus antecessores", observou Suassuna. Palocci tem demonstrado sinais de cansaço, após dois meses como alvo preferencial. O primeiro ataque, desferido pelo ex-assessor Rogério Buratti, acusando-o de cobrar propinas das empresas de lixo em Ribeirão Preto, conseguiu ser rebatida com uma entrevista coletiva. A paciência do ministro começou a se esgotar quando, 15 dias depois, surgiram as primeiras denúncias envolvendo o seu irmão, Adhemar Palocci com a Interbrazil, que teria pago a campanha de reeleição de Pedro Wilson à Prefeitura de Goiânia. Palocci avisou que se parentes seus fossem convocados não hesitaria em pedir demissão. Há um mês, a amargura de Palocci tinha uma nova justificativa, a oposição. "Em privado, algumas pessoas apóiam meu trabalho na economia. Em público, insistem em me chamar para CPI", reclamou o ministro a interlocutores petistas. Depois do embate com Dilma, a crise ficou exposta. Palocci levou suas queixas a Lula. Deixou claro que "não agüentava mais ter que gerir a economia, o que é uma dificuldade enorme, e as crises envolvendo ex-assessores, oposição e integrantes do primeiro escalão do Executivo". O vice-presidente, José Alencar, ontem, durante cerimônia no Ministério da Defesa, defendeu a posição de Dilma contrária ao aumento do superávit primário. "Com minha experiência de vida, digo que Palocci está errado", resumiu Alencar. Líderes aliados no Planalto evitaram queimar publicamente o ministro da Fazenda. Mas defenderam a polarização das posições. "Se há governo, há divergências. Não podemos dar tudo o que temos ao Deus mercado", resumiu o líder do PSB na Câmara, Renato Casagrande (ES). O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP) reconhece que existe um movimento, orquestrado por setores da oposição, para fragilizar Palocci. "Querem atacá-lo porque estão incomodados com o crescimento da economia". Mercadante acha bobagem, no entanto, dizer que a disputa entre Palocci e Dilma seja mais um capítulo nesta crise. "É bobagem. Quantas vezes vocês me viram questionando o superávit, as metas de inflação e as taxas de câmbio? Sempre houve e sempre haverá debates entre quem gere a máquina e quem cuida das finanças", disse. Suassuna (PB), que conversou com Palocci ontem, no Palácio do Planalto, achou o ministro da Fazenda tranqüilo. Segundo ele, Palocci confirmou que tinha conversado com Dilma e reforçou o seu desejo de ir ao Senado, no dia 22 de novembro, participar da audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), para tratar de assuntos relativos à economia. "Mas, como ex-parlamentar, o ministro sabe que, qualquer um que vá a uma comissão, acaba se expondo a qualquer tipo de pergunta", disse.