Título: Gravação desmente depoimento de economista
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 11/11/2005, Política, p. A9

O economista Vladimir Poleto passou ontem por um dos momentos de maior constrangimento dentre todos os depoentes que falaram às CPIs do Congresso nessa crise. Durante duas horas, Poleto negou à CPI dos Bingos as informações à revista "Veja" relacionadas ao suposto esquema montado para trazer dinheiro de Cuba para irrigar a campanha do presidente Lula em 2002. Ele negou ter dito à revista que teve conhecimento de que transportara dinheiro - e não bebida - no avião que embarcou de Brasília a Campinas (SP) em 2002. Refutou também a existência de qualquer gravação autorizada da conversa dele com o repórter Policarpo Júnior. Antes do fim do depoimento, a página na internet da revista divulgou os trechos da entrevista. O senador Demóstenes Torres (PFL-GO) pediu ao presidente da comissão para a gravação ser ouvida. E os trechos desmontaram toda a versão do ex-secretário da Prefeitura de Ribeirão Preto durante a administração do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Poleto aparece na reportagem de "Veja" como o homem que transportou o dinheiro de Brasília a São Paulo a pedido de Ralf Barquete, empresário, homem de confiança de Palocci e ex-secretário da Prefeitura de Ribeirão Preto, morto em 2004. O montante - US$ 3 milhões - teria sido levado em caixas de uísque e rum em um avião particular. Ontem, Poleto confirmou o transporte das caixas, dentro das quais, segundo ele, havia apenas bebida. "Ninguém nunca me disse que eu teria transportado dinheiro. Barquete me pediu para eu pegar uma carona em um avião que sairia de um hangar de Brasília e levasse as bebidas para São Paulo", afirmou. Segundo Poleto, ele viajou a Brasília para tratar de questões pessoais, mas recebeu uma ligação de Barquete que pediu um favor: buscar as caixas em um apartamento na Asa Sul. Um porteiro teria feito a entrega e não Samuel Cervantes, espião cubano apontado por "Veja" como o homem que repassou o dinheiro a Poleto. O economista relatou o encontro com Policarpo Júnior. Disse que já havia bebido "uma cachacinha" quando recebeu a ligação do repórter. Encontrou-o em um hotel de Ribeirão Preto, onde tomaram "uns bons copos de chopes". Por fim, disse ter sofrido "coação e constrangimento, fruto do excesso de álcool". "Ele disse que tinha um dossiê, com detalhes da minha vida. Coisas pessoais. Me propôs um pacto, mas eu não aceitei", afirmou. Toda a tese de Poleto era baseada na bebida e em seu nível alcoólico. "Não me lembro se dei alguma declaração ao final. Minha capacidade de discernimento estava abalada", defendeu-se. Na fita, Poleto disse ter ficado sabendo do verdadeiro conteúdo das caixas. Ralf Barquete lhe teria dito "que tinha dinheiro numa das caixas", e citou uma quantia na entrevista. Ao final da exibição da gravação de sua conversa com o repórter, Poleto pediu a palavra. Disse que a gravação não desmentia sua versão dos fatos. Os senadores mostraram indignação. O senador Magno Malta (PL-ES) pediu à CPI para encaminhar pedido à Justiça de prisão do depoente. "Não é possível que alguém venha aqui e minta dessa maneira", protestou o parlamentar. Antes de Poleto, Rogério Buratti já havia dado depoimento à CPI. O ex-assessor de Palocci confirmou todas as informações publicada por Veja sobre o dinheiro vindo de Cuba, inclusive que teria sido procurado por Ralf Barquete, a mando do ministro da Fazenda, para explicar como seria possível trazer dinheiro de Cuba para o Brasil. "Fui consultado pelo Barquete que dizia falar a pedido do ministro", disse Buratti.