Título: Expectativa é que economia volte a crescer no 4º trimestre
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 10/11/2005, Brasil, p. A6

Depois da retração no terceiro trimestre, consultorias, bancos e também o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) avaliam que a atividade econômica voltou a se aquecer no último trimestre, influenciada pela queda dos juros. As projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre apontam uma taxa positiva de 1,5% ante uma queda entre 0,2% a 0,4% no terceiro trimestre, na comparação com o segundo. Os economistas Celso Toledo, da MCM Consultores, e Aurélio Bicalho, do Banco Itaú, contudo, avaliam que essa recuperação não será suficiente para o país encerrar o ano crescendo 3%. Para isso ocorrer, o PIB do último trimestre teria de crescer 1,9%, o que na avaliação de Toledo "está muito longe". Nas projeções revistas desses economistas, o Brasil deverá fechar 2005 com um PIB de 2,9%, abaixo do crescimento de 4% projetado para a economia mundial pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). A forte queda de 2% na produção da indústria em setembro, na comparação com agosto - em dados com ajuste sazonal divulgados ontem pelo IBGE -, foi superior ao que vinha sendo estimado pelos economistas e levou outras consultorias e bancos a reverem suas projeções para o PIB deste ano para taxas abaixo de 3%. Bicalho adverte, no último boletim semanal de macroeconomia do Banco Itaú, que "este crescimento no quarto trimestre parece otimista diante dos primeiros indicadores de atividade divulgados para outubro: a produção de automóveis recuou 1,8% ante setembro e o consumo de energia, 0,2%". O Ipea não quis adiantar seus novos números, que deverão ser divulgados no início de dezembro, depois que o IBGE anunciar os resultados do PIB do terceiro trimestre no fim deste mês, mas Kopschitz teme que haja um contágio negativo do arrefecimento do terceiro trimestre na atividade do quarto trimestre. Aposta, porém, que o juro em queda joga a favor da economia. Para o economista-chefe da MCM, o desempenho da indústria em setembro não pode ser atribuído 100% à volatilidade normal do índice. A seu ver, tal comportamento revela "perda de dinamismo da economia", pelo menos no curto prazo. "Este resultado pode ser um sinal de que o Banco Central forçou demais o juro", observa. Alex Agostini, da Austin Rating, viu o comportamento da indústria em setembro como conjuntural. "A redução do ritmo de atividade da produção industrial no terceiro trimestre não pode ser tomada como tendência, mas como ajuste conjuntural em função da alta do juro, da crise política e da valorização do real". Ele trabalha com uma projeção de crescimento entre 3,5% a 4% para a indústria este ano. Os números da pesquisa mensal da indústria (PIM) do IBGE, divulgados ontem, informam que na comparação com setembro de 2004 a indústria cresceu 0,2%, o menor resultado desde setembro de 2003. No acumulado do ano, cresceu 3,8% e em 12 meses desacelerou ante agosto, passando de 5,1% para 4,4%. A produção do terceiro trimestre cresceu 1,5% ante o mesmo período de 2004, mas ficou 0,7% abaixo do segundo trimestre de 2005. A queda no ritmo de produção ante agosto atingiu 15 dos 23 ramos industriais e três das quatro categorias de uso. O maior impacto negativo foi do fumo, cuja produção caiu 37,7%. As influências positivas mais relevantes ocorreram com produtos químicos, cuja produção cresceu 1,9%. Entre as categorias de uso, apenas o setor de bens de capital registrou aumento de 1,1%. Os bens intermediários (insumos industriais) encolheram 0,4%, os bens duráveis retraíram 8,9% e os semi e não duráveis sofreram redução de produção de 3,4%. O IBGE chamou a atenção para o fato de que os bens duráveis acumulam de junho a setembro uma queda de 17%. A média móvel trimestral entre agosto e setembro caiu 1,1%.