Título: Conflito com Dilma recrudesce ameaça de Palocci deixar governo
Autor: Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 10/11/2005, Política, p. A8

Abatido com o cerco que vem sofrendo no Congresso e dentro do próprio governo, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, já pensa em deixar o cargo. Nos últimos dias, chegou a manifestar essa possibilidade a assessores do presidente Lula e a pelo menos um interlocutor no Congresso. A gota d'água para o desânimo de Palocci foram as críticas feitas pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, à política econômica e ao programa fiscal de longo prazo que ele e o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, vêm elaborando. Ontem, em entrevista a "O Estado de S. Paulo", Dilma disse que a proposta é "rudimentar" e que o debate é "desqualificado". Dilma chegou a fazer ironias ao comentar que o programa de Palocci e Bernardo se baseia "simplesmente" na DRU. "Pelo amor de Deus. Não dá. Conta para os russos", disse a ministra. Dilma criticou também os juros altos e o superávit acima da meta. O efeito da entrevista sobre Palocci foi "devastador", segundo um parlamentar próximo do ministro. No Palácio do Planalto, assessores de Lula chegaram a afirmar ontem que só haveria duas alternativas para solucionar o embaraço criado por Dilma: a demissão da ministra ou a divulgação de uma nota oficial com um pedido de desculpas. Nem uma coisa nem outra foram consideradas ontem. A ministra Dilma Rousseff não é de pedir desculpas. Além do mais, não passa pela cabeça do presidente demiti-la. Segundo um assessor do Planalto, já demonstrando certa preocupação com a repercussão de suas declarações, Dilma telefonou ontem para o ministro Paulo Bernardo. Antes, conversou com Palocci. "Não se sabe o teor da conversa (com Bernardo), mas desculpas com certeza ela não pediu", comentou um assessor de Lula. Procurado pelo Valor, Bernardo procurou minimizar as críticas da ministra. "Nós ficamos de sentar e conversar", disse ele. Na Presidência, um assessor disse que a situação de Palocci no governo é "sólida". Na avaliação do Planalto, os ataques que o ministro vem sofrendo no Congresso são parte da estratégia da oposição para enfraquecer o governo. "São seis meses de crise política e vai continuar", observou um colaborador do presidente. Palocci chateia-se mais com o comportamento de seus próprios colegas de governo do que com as denúncias feitas pela oposição contra ele. Além do mais, as críticas de Dilma Rousseff foram feitas num momento especialmente delicado, em que a oposição dá sinais de que não o protegerá mais, como fez desde o início da crise política. "Agora, o momento é muito mais grave", assinalou uma fonte. Pelo menos um assessor direto do presidente - o secretário particular do presidente, Gilberto Carvalho - estava preocupado ontem com a situação de Palocci. O ministro, já se sabe, não tomará decisões de forma intempestiva, sem consultar o presidente Lula antes e, principalmente, sem avaliar o impacto de sua saída sobre os rumos da economia brasileira. Ontem, o mercado reagiu mal aos rumores de uma possível queda de Palocci. Os amigos do ministro avaliam que ele permanecerá no governo enquanto achar que pode ajudar o presidente Lula a governar e superar a crise. O fato é que, agora, premido pela crise e pelas críticas, Palocci começou a reavaliar futuro. (Colaborou Claudia Safatle)