Título: Governistas do PMDB intensificam ofensiva contra candidatura própria
Autor: Raymundo Costa e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 10/11/2005, Política, p. A9

Partidos Estratégia é adiar as prévias para minar pré-candidatura de Anthony Garotinho

A ala governista do PMDB intensificou as articulações para tentar adiar a prévia que escolheria o candidato do partido à Presidência da República, prevista para março. A senha para a ofensiva foi dada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na entrevista concedida ao programa "Roda Viva", quando afirmou que pretende montar uma aliança mais ampla que a de 2002, de modo a governar com maioria, se for à reeleição em 2006. Em conversas com governadores e com o presidente da seção paulista do PMDB, Orestes Quércia, os senadores José Sarney (AP) e Renan Calheiros (AL) sondaram a possibilidade do adiamento. Por enquanto, Quércia mantém o apoio às prévias - adiá-las poderia passar a impressão de um ato anti-Garotinho. O ex-governador do Rio, Anthony Garotinho, é até agora o único inscrito para a disputa. Ontem, o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, disse ao presidente do partido, Michel Temer, que pretende se inscrever no início de janeiro de 2006. Presidente do Senado, Renan descarta o nome de Garotinho. Diz que o ex-governador do Rio não conta com o apoio dos governadores, não tem história no PMDB e nem bom trânsito entre as diversas áreas do partido. Um cacique pemedebista diz que Renan exagera ao dizer que os governadores não querem Garotinho: "A Rosinha quer", ironiza, referindo-se à governadora do Rio, Rosinha Matheus. Por enquanto, Renan e aliados dizem que o nome com tradição e trânsito é o de Jarbas Vasconcelos, governador de Pernambuco. O problema é que Jarbas já avisou o PMDB que não pretende se candidatar a presidente. Jarbas tem-se mostrado bem mais condescendente com o governo Lula desde que a Petrobras anunciou que a refinaria do Nordeste será construída em Pernambuco, mas continua defendendo a candidatura própria. Só não acha que o candidato deva ser Garotinho. Ainda assim, a oposição a Lula entre os governadores permanece majoritária: Rigotto (RS), Roberto Requião (PR), Luiz Henrique (SC) e Joaquim Roriz (DF). Entre os governistas estão Paulo Hartung (ES) e Eduardo Braga (AM). Outro aspecto levantado pelos governistas é a verticalização: se ela for mantida, o melhor para o PMDB seria não ter candidato a presidente, o que facilitaria as composições regionais do partido. Argumentam também que é preciso dar tempo para Lula antes de o partido se decidir por um afastamento. Depois do primeiro trimestre de 2006 é que poderia ser avaliada a real condição eleitoral do presidente. Desde já os governistas avaliam que Lula será um candidato competitivo. Como PSDB e PFL já se decidiram por uma aliança, o espaço que teria restado ao PMDB seria o apoio a Lula e ao PT. Para reforçar sua posição na disputa interna, os governistas pedem cada vez mais do governo. Ontem, a bancada do Senado jantou com a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), na casa do senador Ney Suassuna (PB). A lista do contencioso é extensa: passa pela liberação de verbas do Orçamento e a nomeação de dirigentes das elétricas nos Estados. As indicações foram feitas pelo Ministério das Minas e Energia, mas estão paradas na Casa Civil. Menos por implicância de Dilma que por resistências do PT a ceder espaços para o aliado. A complexidade do PMDB torna a decisão do partido uma incógnita até para os interlocutores políticos do Planalto. Para se somar à tradicional divisão peemedebista, que não consegue definir se apoiará o PT ou se terá candidatura própria ao Planalto no ano que vem, mais um empecilho assombra os aliados: Lula não define, oficialmente, se será ou não candidato. Apesar deste desfecho ser praticamente óbvio, os interlocutores não têm como pedir que os prováveis candidatos a vice abram mão de seus projetos políticos pessoais para compor uma chapa com o PT. Ontem, no Planalto, Lula reuniu-se com Renan Calheiros, no final da manhã, e com José Sarney, no final da tarde. Além das preocupações e reivindicações específicas, ambos aproveitaram para medir a temperatura da relação entre o partido e o governo. "Os caciques do PMDB governista estão alvoroçados. Estão com um medo danado do Garotinho", confirmou um assessor do Planalto. Apesar da movimentação intensa do ex-governador do Rio para garantir seu espaço na legenda e solidificar a candidatura própria, o que dificultaria a aproximação com o PMDB, o Planalto vem tentando manter uma relação sem maiores atritos com a governadora do Rio. "Ela tem bom trânsito junto ao presidente Lula. Os dois lados reconhecem que um rompimento seria péssimo para todos", contou um aliado do presidente. Em termos. O casal Garotinho freqüentemente se diz discriminado pelo governo federal. No PMDB governista, a avaliação é de que Garotinho apóia-se na militância, já que não tem força entre os governadores do partido - todos possíveis pré-candidatos. Além disso, os pemedebistas apostam em outro trunfo: a votação da inelegibilidade do casal Garotinho por conta da suposta compra de votos para um candidato aliado em troca de benefícios sociais nas eleições municipais de Campos, em 2004. "Estamos dando corda para eles se enforcarem. Quem sabe o TSE não julga a inelegibilidade antes da convenção e diminui nossos problemas?", torce um cacique pemedebista. O ministro da Coordenação Política, Jaques Wagner, não revela as negociações para as alianças em 2006. A própria situação pessoal dele está indefinida. Pessoas próximas ao ministro não sabem dizer se ele será ou não candidato em 2006. A maior hipótese é de que não concorra a nenhum cargo eletivo, permanecendo até o fim na articulação de governo. Especulou-se inclusive que ele poderia assumir a coordenação da campanha presidencial. . Quando o assunto é sucessão, joga toda a responsabilidade da discussão para PFL e PSDB. "A oposição está querendo antecipar o jogo de 2006. Ao governo, interessa que ele seja jogado no tempo próprio", resumiu. Na semana passada, surgiu como alternativa a indicação de Jarbas Vasconcelos, como opção para vice de Lula. Esse apoio passaria por uma dobradinha com o atual prefeito de Recife, o petista João Paulo, que concorreria ao governo estadual. Mas nem os mais próximos articuladores de Lula acreditam nesta viabilidade. "Existe a questão regional, Jarbas é um grande nome, mas próximo do PFL", resumiu um assessor. O presidente do Senado, Renan Calheiros (AL) também surge como um nome a ser considerado no tabuleiro. Mas dependeria da capacidade de negociação do governo com José Sarney. "Renan está empolgado. Mas o Planalto teria que oferecer uma compensação muito boa para Sarney e sua filha, Roseana", confirmou uma fonte palaciana. A articulação dos governistas para adiar as prévias tem um problema a mais: abril é o prazo para a desincompatibilização de quem ocupar cargo público e desejar sair candidato, como Rigoto, por exemplo. E ele só deixaria o governo do Estado com a segurança de que teria o nome confirmado na convenção de junho - garantia essa que só a realização da prévia poderia oferecer.