Título: Bancos e estrangeiros derrubam dólar
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 10/11/2005, Finanças, p. C1

Câmbio Exportadores estão cautelosos com a volatilidade; moeda cai pelo oitavo dia consecutivo

Os investidores externos e os bancos aumentaram suas posições vendidas e, apesar das compras estimadas em US$ 300 milhões pelo Banco Central ontem, o dólar voltou a cair pelo oitavo dia consecutivo. Foi a R$ 2,1790, seu menor valor desde 12 de abril de 2001, uma queda de 0,72% no dia e de 4,89% em oito dias. Os exportadores, que vinham com vendas agressivas em outubro, antecipando fechamentos de câmbio em US$ 2 bilhões só no mês passado, estão mais cautelosos neste mês. Segundo o Valor apurou, na semana passada eles estiveram praticamente ausentes do mercado e, nesta semana, apesar de um pequeno retorno, o movimento ainda é modesto. Quando a queda do câmbio é forte demais, muitos exportadores preferem esperar para ver. "Vimos algumas operações, principalmente dos exportadores com necessidade de caixa", afirma Sérgio Meniconi, responsável pelo câmbio e ativos internacionais do Unibanco. "Mas, o movimento está fraco", disse. Neste mês, nos grandes bancos, o câmbio efetivamente exportado é maior do que o câmbio contratado para exportação. No ano acumulado até outubro, a situação era diferente. Com os US$ 2 bilhões de antecipação do mês passado, o câmbio contratado para exportação havia superado as vendas externas físicas realmente realizadas em US$ 3,597 bilhões, segundo o Departamento Econômico do Bradesco. O movimento dos exportadores foi fundamental para derrubar o dólar em 18% no acumulado deste ano. Mas, o aumento nas posições vendidas dos fundos estrangeiros e das tesourarias de bancos, os exportadores estão cautelosos. As posições vendidas dos bancos neste mês ainda não foram divulgadas pelo Banco Central. Pelos números da Bolsa de Mercadorias & Futuros, no entanto, é possível perceber que os investidores estrangeiros aumentaram suas posições vendidas em US$ 1 bilhão neste mês em apenas cinco dias úteis, ou cerca de US$ 200 milhões por dia, para US$ 7,74 bilhões. Os números dos contratos em aberto da BM&F, disponíveis até o dia 8, refletem em parte o mercado externo futuro de dólar contra o real, cujos contratos são conhecidos como "Non Deliverable Forwards" (NDFs), que conta com participação crescente de fundos mútuos americanos e até de fundos de pensão e seguradoras. Esses investidores estrangeiros perceberam que o BC brasileiro, com os juros nos níveis atuais e sua política conservadora de metas de inflação, está em sinuca e não tem como impedir a queda no dólar. A volatilidade no mercado americano caiu neste início de mês, apesar de os juros dos títulos do Tesouro americano terem se firmado em nível mais alto, e esse investidor internacional voltou a correr em busca de maiores ganhos, diz o estrategista do JP Morgan em Nova York, Drausio Giacomelli. Segundo ele, um índice que mede a volatilidade no mercado de ações americano, o Vix do Standard & Poor's, passou de 12,46% no dia 3 de outubro para 16% no dia 27 de outubro. Ontem, estava de volta aos 12,50%. "Com a volatilidade em baixa nos EUA, os fundos aceitam tomar mais risco fora do mercado americano", explicou. Os juros reais brasileiros de 14% ao ano ajudaram a atrair fluxo externo líquido quase US$ 4 bilhões no mercado de câmbio em outubro e o investidor externo percebeu que a única forma de o BC brasileiro segurar a queda do dólar seria reduzir os juros em um ritmo maior. Como os fundos internacionais ficam investidos em taxas prefixadas e vendidos em dólar contra o real, ganham nos juros se o BC for mais agressivo nos cortes e ganham no câmbio se o BC mantiver a queda de 0,5 ponto percentual hoje esperada para as próximas reuniões do Comitê de Política Monetária. "É um jogo de ganhar ou ganhar", afirmou Giacomelli. As últimas notícias só contribuíram para trazer mais pressão vendedora ao câmbio. Primeiro foi a decisão da Standard & Poor's, de mudar para positiva a perspectiva da nota do risco de crédito da dívida externa brasileira, anteontem. Ontem foi a vez da nova captação externa da República engrossar mais as reservas internacionais e trazer otimismo. A decisão do BC, de não comprar dólar no mercado futuro por meio do swap reverso, só colocou mais lenha na fogueira. Giacomelli lembra que os swaps reversos iriam anular os ganhos que o Tesouro vem tendo com a queda de dólar no que resta da dívida interna indexada ao câmbio, de US$ 10 bilhões, entre swaps e títulos. Os dados da produção industrial fraca em setembro, divulgados ontem pelo IBGE, ajudaram ainda mais no tombo no dólar. O mercado esperava queda de 1% e a retração foi de 2%. "Com a atividade mais fraca, teremos menos importações e menos gente comprando dólar, portanto", lembra Alexandre Vasarhelyi, chefe da mesa de câmbio do ING. Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco, acrescenta que, ao revisar para cima suas expectativas de superávit comercial para o ano que vem, o mercado passou a se perguntar se a taxa de câmbio não estava errada. "Será que um superávit em conta corrente de 0,8% do PIB é compatível com um país como o Brasil, que pretende crescer 4% em 2006?", indaga.