Título: BC tem poucos instrumentos para interferir na taxa de câmbio
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 10/11/2005, Finanças, p. C2

O Banco Central intensificou as suas intervenções no mercado de câmbio. Em 1º de novembro, comprou US$ 471 milhões em seu leilão, segundo dados sobre a expansão da base monetária divulgados ontem. Mas a estratégia mais agressiva não tem sido suficiente para conter a valorização do câmbio - o que tem levado analistas a especular sobre o possível uso de outros instrumentos, como derivativos e juros. Não há um consenso sobre a causa da apreciação. De forma geral, economistas apontam dois fatores: um, ligado à melhora dos fundamentos, que levaria a taxa de câmbio a um novo equilíbrio; outro, mais conjuntural, representado pelos altos juros, que atraem capitais estrangeiros. O argumento de quem acredita na influência dos fundamentos são os dados do balanço de pagamentos. As estatísticas do BC mostram que o grosso do fluxo de dólares ao país vem das exportações, e não de capitais de curto prazo. De janeiro a setembro, o balanço de pagamentos de mercado (exclui o BC) teve uma sobra de US$ 12,1 bilhões. De longe, a principal contribuição foi do saldo de transações correntes, de US$ 13,4 bilhões (sempre excluindo o BC); em seguida, os investimentos diretos, com US$ 11,8 bilhões. Esse grande fluxo de dólares é explicado, de uma lado, pelo quadro de forte crescimento e farta liquidez internacional e, de outro, pela melhora de indicadores econômicos do país. "O que está determinando a apreciação cambial são os fundamentos", diz Roberto Padovani, da consultoria Tendências. "Não vejo muito espaço para o BC agir para evitar essa apreciação da moeda." De outro lado, parte dos analistas diz que os dados dos mercados futuros comprovam que a apreciação está ligada aos altos juros. A posição vendida em câmbio no mercado futuro é da ordem de US$ 8 bilhões. O curioso é que esse grupo de analistas não nega o papel exercido pelos fundamentos econômicos na valorização da taxa de câmbio. As instituições que lucram com a diferença entre juros internos e externos fazem duas operações simultâneas. De um lado, ficam vendidas em câmbio e, de outro, aplicam em altos juros no mercado doméstico. As operações só serão rentáveis se a desvalorização do câmbio não for maior que os juros internos. De certa forma, nessa aposta está implícita a idéia de que os bons fundamentos vão manter o cambio relativamente apreciado. "Grosso modo, a renda fixa oferece uma remuneração de 20% ao ano. Parece muito pouco provável uma desvalorização cambial dessa ordem", diz Luiz Suzigan, da LCA. "Temos um resultado positivo em conta corrente e uma economia internacional favorável." O BC tem dois instrumentos à disposição para lidar com essa valorização contínua. Um deles é voltar a vender "swaps" cambiais reversos, em que fica comprado em dólar no mercado futuro e vendido em juros. Há, porém, duas críticas a essa estratégia. Uma é que a autoridade monetária age "enxugando gelo" - enquanto os juros forem altos, haverá demanda para novas posições no mercado futuro. Outro ponto é que esse tipo de estratégia custa caro e os ganhos são cada vez menores. O custo é a taxa Selic paga nos "swaps"; os ganhos, a redução da exposição cambial da dívida pública, que são residuais, porque o débito cambial já caminha para zero. Outra saída para o BC evitar maior valorização é cortar os juros. Caio Menegale, da Mauá Investimentos, é um dos que acham que há espaço para um corte mais agressivo de juros, entre outros motivos porque nem toda valorização cambial se refletiu na inflação. "O BC está em um corner porque demorou a baixar juros", diz. "Está diante de três opções: deixar o dólar cair a R$ 1,80, com um risco sério de PIB negativo; comprar mais dólares, com custo fiscal altíssimo; ou baixar rapidamente os juros." Luís Fernando Lopes, do Banco Pátria de Negócios, pondera que uma questão antecede a tudo isso: Até que ponto o BC estaria desconfortável com a situação? "Certamente, o BC gostaria que o dólar parasse de cair. Mas, se estivesse realmente incomodado, já teria anunciado um leilão de 'swap' nesta semana."