Título: Produtores do PR exportam trigo de qualidade inferior
Autor: Mônica Scaramuzzo
Fonte: Valor Econômico, 11/11/2005, Agronegócios, p. B11

Balança Mas as importações do cereal deverão aumentar 30% neste ano

Os produtores paranaenses começaram a fechar contratos de exportação de trigo como estratégia para escoar parte da produção de qualidade inferior do cereal colhido nesta safra. A produção no país está estimada em 4,4 milhões de toneladas para este ano, 22% menor que em 2004/05, dos quais apenas 500 mil toneladas do total são consideradas trigo de excelente e boa qualidade, disse Aldo Lobo, analista da Safras&Mercado. Até o momento foram fechados contratos de exportação de 230 mil toneladas para países da África e da Ásia, com embarques previstos a partir de dezembro, segundo Lobo. Mas a expectativa é de que os embarques de trigo atinjam 400 mil toneladas até o final da safra 2005/06. A qualidade do trigo do Sul do país foi comprometida por conta das chuvas durante o início da colheita, entre agosto e setembro, observou Lobo. A retomada das exportações - a mais relevante foi observada em 2003, com embarques de 1,375 milhão de toneladas - ocorre não como uma tendência, que poderia se consolidar nos próximos anos, mas como uma oportunidade para reduzir a oferta de trigo de qualidade inferior do país, segundo Lobo. "Os embarques de 2003 ocorreram porque havia grandes estoques no mercado interno", disse Lobo, lembrando que a qualidade do trigo colhido naquela época era boa. Boa parte das exportações do Paraná tem sido ancorada pela Cooperativa Agrícola Mourãoense (Coamo) e também pela Cooperativa Agroindustrial (Cocamar), de Maringá (PR). José Cícero Aderaldo, gerente comercial de grãos da Cocamar, disse que os volumes negociados pela cooperativa até o momento foram de 8 mil toneladas. "As vendas foram feitas via trading e devem ser direcionadas para a África", disse. Procurada pelo Valor, a Coamo não retornou às ligações. Se por um lado a qualidade inferior do trigo tem favorecido as exportações, por outro deverá pesar sobre as indústrias. As importações deverão crescer 30% nesta safra, passando de 4,971 milhões em 2004 para cerca de 6,5 milhões de toneladas neste ciclo, segundo a Safras&Mercado. As importações do cereal no ano passado - mais de 90% de origem argentina - foram de quase US$ 1 bilhão. De acordo com Lobo, a Argentina deverá suprir esta safra boa parte das importações brasileiras. Segundo Lobo, as cooperativas estão participando ativamente dos leilões realizados pelo governo federal para a escoar o trigo de seus estoques oficiais. A estratégia das cooperativas é comprar o trigo de qualidade boa e intermediária e exportar o produto de qualidade inferior. As indústrias utilizam o trigo de qualidade intermediária para a fabricação de biscoitos e os de boa qualidade para panificação. O trigo importado deverá ser mesclado com os de qualidade intermediária. Nos últimos dois leilões realizados pelo governo, nos dias 27 de outubro e 3 de novembro, foram ofertados no total 400 mil toneladas, com arremate de 308,6 mil toneladas. A colheita de trigo no Sul do país, responsável por 90% da oferta nacional, está quase no fim. No Paraná, maior produtor do país, a colheita termina nos próximos dias. No Rio Grande do Sul, deverá ser finalizada até o final deste mês.