Título: Banco Popular sofre com inadimplência e custo alto
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 11/11/2005, Finanças, p. C2

No Vermelho Provisões para empréstimos ruins chegam a 29% da carteira

Criado em fins de 2003 para ser o braço do Banco do Brasil no segmento de microfinanças, o Banco Popular do Brasil (BPB) enfrenta uma crise que está obrigando a instituição a rever os seu planejamento estratégico. Indicadores de inadimplência nas operações de microcrédito estão registrando contínua deterioração, exigindo aumento de provisões, e foi revisto o ambicioso plano de inclusão bancária, que previa a abertura massiva de contas correntes simplificadas. No mais recente balancete publicado pelo BPB, referente a agosto, as provisões sobre operações de crédito haviam chegado a R$ 18,865 milhões, o que representava 29,12% do volume de crédito naquela data, que somava R$ 64,789 milhões. Dois meses antes, em junho, somavam R$ 13,094 milhões, ou 24,2% da carteira de crédito de então. O BPB não atendeu o Valor para explicar os números, mas encaminhou nota em que diz que o aumento das provisões se deve a uma classificação de risco mais conservadora. Os dados do balancete, porém, sugerem uma forte deterioração da carteira. De junho a agosto, as operações classificadas como risco "H" - crédito praticamente perdido - subiram de R$ 4,487 milhões (8,3% da carteira de crédito) para R$ 9,928 milhões (15,3%). Fontes do BB explicam que o aumento da inadimplência é resultado da estratégia agressiva de ampliação da base de clientes e da carteira de crédito adotado no início da operação do banco. O BPB começou a operar comercialmente em junho de 2004 e, seis meses depois, já havia atingido um total de 5,5 mil pontos de atendimento, com 1,05 milhão de correntistas. Em março, a clientela BPB era de R$ 1,3 milhão. Todos os correntistas têm à disposição limite de crédito pré-aprovado, que começa em R$ 50 na primeira operação e, se o cliente for bom pagador, vai sendo elevado lentamente a até R$ 600. Em meados deste ano, a atuação do BPB começou a ser revista. Boa parte da clientela (cerca de 30%) nunca ativou suas contas. E contas não movimentadas, que representavam custos operacionais sem retorno, começaram a ser fechadas. Esse processo, ainda em curso, fez com que o número de clientes se resumisse a 771 mil no fim de setembro, segundo dados do Banco Central. O número relativo pequeno de contas abertas, quando comparado com os altos investimentos nesse pouco mais de um ano de operação comercial - sobretudo em publicidade, justamente para ampliar a base de correntistas -, representa um custo elevado de aquisição de clientes. O prejuízo acumulado nos 12 meses encerrados em junho é de R$ 47,566 milhões (o BB diz que conseguiu deixar o prejuízo menor do que o previsto). Quando dividido pela clientela de 771 mil, chega-se a um custo de R$ 61,69 de aquisição de cada cliente. A provisão de R$ 18,865 milhões, dividido pela clientela do BPB, representa um custo de R$ 24,47 por cliente. Em depoimento no Senado em março, o então presidente do BPB, Ivan Guimarães, disse que tinha informação de que alguns bancos privados tinham um custo de até R$ 35 para adquirir um cliente; na época, ele disse que ficaria satisfeito com um custo de R$ 20. O plano de expansão, que previa uma rede de 21 mil pontos de atendimento e 8 milhões de correntistas, começou a ser revisto com a saída de Guimarães - que foi substituído primeiro por Geraldo Magela e, em seguida, por Robson Rocha. A estratégia tem sido cortar pontos de atendimento deficitários e caminhar mais lentamente na ampliação da base de clientes do banco. Permanece, porém, o desafio de reduzir a inadimplência. Essa não é uma questão que está restrita ao BPB, argumenta uma fonte próxima ao banco. A Caixa Econômica Federal também convive com índices relativamente altos, mas os números não são claros, porque as operações se confundem com o resto da carteira da instituição - o que puxa os números para baixo são as operações de micropenhor. Embora deficitário, o grande mérito do BPB é justamente seu balanço segregado, que dá transparência aos números.