Título: Uma fronteira em ebulição
Autor: Luiz, Edson
Fonte: Correio Braziliense, 02/05/2010, Mundo, p. 23

A região em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai se encontrar com o colega paraguaio, Fernando Lugo, é uma das que mais requer atenção das autoridades brasileiras. É de Pedro Juan Caballero que sai parte das drogas e das armas que chegam ao Brasil. A cidade fica próxima a vários pequenos municípios de Mato Grosso do Sul, área muitas vezes usada para o escoamento do narcotráfico. Nas imediações da capital do estado paraguaio de Amambay residem muitos brasiguaios ¿ o centro das atenções na crise vivida pelo país vizinho, que resultou na decretação de estado de exceção e no atentado ao senador governista Robert Acevedo, no qual morreram o motorista e um segurança do político. A fronteira entre o Brasil e o Paraguai foi uma das mais procuradas por traficantes brasileiros, há vários anos. Não apenas pela facilidade de movimentação da droga, mas também pela facilidade de se esconder. A produção da maconha abastecia 80% do consumo brasileiro. A cocaína vinha principalmente da Bolívia, que também faz fronteira com o Paraguai. O traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, chegou a ter terras na região de Capitão Bado, próxima à propriedade de uma família de criminosos de Mato Grosso do Sul, que foi quase toda dizimada devido à concorrência com grupos rivais. Com a fuga de Beira-Mar para a Colômbia, onde se aliou às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), o tráfico passou a ser dominado por grupos locais ¿ alguns deles ligados a movimentos contrários ao governo, como o Exército do Povo Paraguaio (EPP). O atentado a Acevedo, antes atribuído a uma facção criminosa que age a partir das cadeias brasileiras, segundo autoridades da área de inteligência do Brasil, foi um exemplo de domínio do narcotráfico da região. ¿Em nossas investigações, não encontramos histórico de atuação da facção criminosa fora do Brasil¿, afirma um assessor do governo brasileiro. ¿O máximo que observamos foi a ida de criminosos negociar droga do outro lado da fronteira¿, acrescenta a fonte.

Novos sem-terra Segundo a PF, os resultados dos acordos entre os dois países têm sido positivos, com o crime organizado migrando para outras regiões, como a Bolívia. A PF ofereceu à Secretaria Nacional Antidrogas paraguaia financiamento de ações de erradicação da maconha, apoio logístico e observadores. Mais recentemente, foi montada a Operação Sentinela, para fiscalizar toda a fronteira brasileira, inclusive nas áreas tensas próximas a Pedro Juan Caballero. Do lado brasileiro, além da tensão com a crise paraguaia e as retaliações com os brasiguaios, persistem o problema do narcotráfico e questões sociais. Às margens das rodovias, centenas de pessoas despejadas de suas terras no Paraguai juntam-se a acampamentos de sem-terra. O mesmo requerem os índios guarani, que há décadas habitam casebres espremidos pelas grandes lavouras ou por usinas de cana-de-açucar. A consequência disso foi o crescimento da pobreza na região e, há alguns anos, o suicídio contínuo de jovens indígenas, além do aumento de conflitos fundiários.