Título: Receitas e despesas continuam a aumentar
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2005, Brasil, p. A2

O superávit primário continua bastante robusto e deve terminar o ano bem acima da meta de 4,25% do PIB, mas o resultado segue apoiado numa combinação pouco elogiável de aumento simultâneo de receitas e despesas. Alguns analistas já consideram possível que a economia para pagar juros encerre 2005 na casa de 5% do PIB, em grande parte devido ao crescimento da arrecadação e ao desempenho das estatais, ainda que os gastos sejam maiores no fim do ano. O economista-chefe da corretora Convenção, Fernando Montero, diz que, de janeiro a setembro, as receitas do governo federal cresceram 1,24 ponto percentual do PIB em relação ao mesmo período de 2004. Além disso, o resultado das estatais foi 0,43 ponto percentual do PIB maior. "Com isso, o setor público contou com 1,77 ponto do PIB de financiamento adicional em comparação com 2004", afirma o economista. As despesas também continuaram a crescer, como lembra o economista Guilherme Loureiro, da Tendências Consultoria Integrada. Nos 12 meses terminados em setembro, as despesas totais do governo federal ficaram em 17,6% do PIB, acima dos 17,1% do PIB registrados um ano antes. Para o economista-chefe do WestLB, Adauto Lima, esse quadro mostra que o Brasil ainda tem que fazer um ajuste fiscal de verdade, com base no corte de gastos, e não apoiado no aumento de receitas que compense o crescimento de despesas. "O que o país faz é ajuste de caixa." Como o governo continua a aumentar os gastos, a política fiscal acaba por pressionar a demanda. Para vários analistas, se o superávit primário fosse obtido pelo corte de despesas, haveria mais espaço para o Banco Central (BC) reduzir mais rapidamente os juros, já que uma política fiscal restritiva tende a abrir espaço para uma política monetária mais frouxa. A superação da meta de superávit primário de 4,25% do PIB já é considera certa pelos analistas. A economista Ana Paula Rocha, do ABN AMRO, acredita num superávit de pelo menos 4,5%. Loureiro, da Tendências, projeta 4,8%, mas diz que, se o resultado das estatais continuar tão forte, o saldo deve atingir 5% do PIB. Montero, por sua vez, prevê um saldo de 4,8% do PIB.