Título: Dívida líquida cai pouco com crescimento baixo
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2005, Brasil, p. A2

O aumento do gasto com juros tem sido apontado como o principal obstáculo para a redução mais forte da dívida líquida do setor público em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). Mas dados divulgados ontem pelo Banco Central mostram que, mais do que juros, o que tem pesado menos favoravelmente neste ano é o baixo crescimento da economia, medido pela variação do PIB. Entre agosto e setembro, a dívida caiu de 51,8% para 51,4% do PIB. Mas, analisada por um período mais longo, a dívida mostra certa estagnação - ela representava 51,7% em dezembro de 2004. É uma queda bem mais tímida do que a observada no mesmo período do ano passado, quando passou de 58,7% para 53,7% do PIB. O principal fator por trás da queda da relação dívida/PIB em 2004 foi o crescimento do PIB nominal. Nos três primeiros trimestres daquele ano, esse fator deu uma contribuição positiva de 6,6 pontos percentuais (pp) na redução do débito. Em igual período deste ano, sua contribuição foi de apenas 1,1 pp. Dois fatores explicam a maior contribuição do PIB para a queda do indicador de endividamento em 2004. Um deles é o maior crescimento real da economia, que foi de 4,94% naquele ano e, segundo projeções do BC, deverá se restringir a 3,4% neste ano. Outro fator que pesou favoravelmente foi uma maior inflação. Juntos, esses dois fatores fizeram o PIB usado pelo BC no cálculo do endividamento subir 12,57% de janeiro a setembro de 2004, ante 2,27% em igual período de 2005. O fator juros nominais também vem pesando mais sobre o endividamento neste ano que no anterior. De janeiro a setembro, os juros nominais deram uma contribuição de 6,3 pp para o aumento do endividamento, ante 5,4 pp em igual período de 2004. As estatísticas do BC reforçam o papel do crescimento da economia para a melhora dos indicadores do endividamento, mas não permitem conclusões absolutas. É possível argumentar, por exemplo, que a menor contribuição do PIB para a queda do endividamento é uma conseqüência dos juros básicos mais elevados. Outro dado que deve ser ponderado é que a deflação representa, na verdade, juros reais mais elevados. (AR)