Título: Chineses e dólar valorizado são causa de preocupação
Autor: Vera Saavedra Durão e Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2005, Brasil, p. A3

O volume potencial de investimentos expresso pela carteira do BNDES já não consegue impressionar a indústria de bens de capital sob encomenda. "Há três anos que ouvimos falar em US$ 12 bilhões, US$ 16 bilhões de investimentos em siderurgia, mas eles são sempre adiados. Não há uma política de governo que leve os investidores a se definirem. Grandes projetos demoram, mas não se posterga tanto assim. Dá prejuízo", disse Luiz Carlos Lameu, diretor comercial, administrativo e financeiro da SMS Demag e também diretor da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq). A SMS Demag possui em Vespasiano, região metropolitana de Belo Horizonte, a maior fábrica de equipamentos para a indústria siderúrgica do país. A fábrica já empregou diretamente 1.398 pessoas, número reduzido a 259 no fim do ano passado. Hoje, com duas encomendas importantes, incluindo o sistema de lingotamento contínuo da Gerdau Açominas, a equipe cresceu para 400 pessoas. Devido à sazonalidade do setor, a empresa, de origem alemã, optou por fazer uma associação com uma empresa nacional de menor porte para buscar mercados alternativos. "Acho que está faltando time e coordenação", disse o executivo, ainda que evitando atacar frontalmente a política do governo. Segundo ele, não bastasse a mundialmente temida concorrência chinesa e a sobrevalorização cambial, o governo quando age acaba favorecendo mais a importação do que o produtor interno. "A MP do Bem está sendo vendida como a oitava maravilha do mundo, mas só é boa para os investidores", disse. Segundo ele, como a desoneração do IPI e do Pis-Cofins não atinge a cadeia produtiva dos bens, o produtor nacional de bens de capital ficará menos competitivo. O presidente da Abimaq, Newton de Mello, vai direto ao assunto e com virulência: "O país está traumatizado e a causa é a política macroeconômica", disse. Segundo Mello, devido às encomendas de 2003 e 2004 o faturamento do setor de bens de capital cresceu 35% de janeiro a setembro deste ano e o consumo aparente cresceu 23,7%. "Mas não há encomendas, os equipamentos maturados neste ano foram contratados entre 2003 e 2004." Devido a isso, Mello avalia que até dezembro o consumo aparente anual terá caído para 15%. "A âncora cambial vai acabar nocauteando o crescimento. Demora um pouco por causa da inércia, mas acaba nocauteando", afirmou o presidente da Abimaq, para quem nenhuma economia resiste a uma apreciação cambial em torno de 25% em um ano. O diretor para a área de máquinas da Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base (Abdib), Sérgio Parada, faz coro. "Estamos vivendo um momento de grande incerteza. O dólar desvalorizado tanto dificulta as exportações como facilita as importações." Segundo ele, não bastasse o câmbio, há problemas internos, como as desconfianças quanto ao sucesso do leilão de energia elétrica nova previsto para dezembro. Na área de celulose há projetos, mas, segundo Parada, a demanda por máquinas é bem menor que se os projetos fossem na área de papel. Segundo o diretor da Abdib, os projetos em carteira precisam deslanchar até março, caso contrário tudo vai ficar para o próximo governo, só gerando atividade na indústria em meados de 2007. Thompsom Freitas, gerente de vendas da Ferrostaal, está preocupado, principalmente, com a concorrência chinesa. "De fato, vai afetar muito o mercado nacional. Vemos o governo se movimentar, mas de concreto, nada", lamentou. (VSD e CS)