Título: CNI e Fiesp criticam condução da política industrial
Autor: Vera Saavedra Durão e Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2005, Brasil, p. A3

Duas das principais associações empresariais do país manifestaram nos últimos dias insatisfação com a maneira como tem sido conduzida a política industrial lançada pelo governo em março de 2004. Na sua avaliação, foram insuficientes as medidas tomadas até agora para fortalecer as empresas e ajudá-las a competir no mercado externo. A primeira a atirar foi a Confederação Nacional da Indústria (CNI), que na semana passada promoveu um congresso sobre o assunto e apresentou uma extensa pauta de reivindicações. Ontem, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) divulgou um documento semelhante em que também faz várias críticas e sugestões ao governo. Como sempre ocorre nessas ocasiões, os empresários pedem mais ajuda ao governo. O documento da CNI defende a ampliação dos programas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para os setores escolhidos como alvos prioritários da política industrial. O da Fiesp pede a redução das taxas cobradas nos empréstimos do banco, que já são as mais baixas do mercado, e a liberação de mais recursos para financiar investimentos do setor privado. A maioria das medidas sugeridas pela CNI tem como foco a questão da inovação tecnológica, que o próprio governo aponta como peça-chave de sua política industrial. A entidade pede o reforço dos programas federais que financiam atividades de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos na indústria e a ampliação dos incentivos fiscais criados recentemente para reduzir os custos dos investimentos em inovação para as empresas. Os instrumentos de apoio à inovação lançados com a política industrial do governo no ano passado até hoje não funcionam. Alguns só foram regulamentados agora, após meses de discussão entre os ministérios envolvidos com o tema, e ainda não se sabe quanto dinheiro terão no ano que vem. Os incentivos fiscais só foram aprovados pelo Congresso há uma semana, incluídos na chamada MP do Bem. As propostas da Fiesp têm caráter mais genérico e incluem pedidos de redução dos impostos que incidem na venda de máquinas e equipamentos. No ano passado, o governo promoveu vários cortes nos tributos cobrados na venda de bens de capital. Mas a Fiesp achou pouco. "O custo do investimento ainda é muito alto", afirmou o diretor do Departamento de Competitividade da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho. Na avaliação da Fiesp, outro problema da política industrial é a falta de articulação entre os vários órgãos de governo envolvidos. Embora existam um conselho com a presença de vários ministérios e uma agência independente do governo se ocupando do tema, ambos com representantes da Fiesp e de outras entidades empresariais, a Fiesp acha que esses organismos funcionam mal. "Um ministério não fala com o outro e ninguém resolve nada", disse Roriz Coelho. A Fiesp sugere a criação de um novo órgão governamental, a Câmara de Desenvolvimento Tecnológico, que distribuiria verbas federais e incentivos fiscais para projetos de pesquisa do setor privado.