Título: BNDES destina R$ 27 bi para compra de bens de capital até 2010
Autor: Vera Saavedra Durão e Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2005, Brasil, p. A3
Investimentos Setores que podem se beneficiar são os de siderurgia, papel e celulose, mineração e petroquímica
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem um portfólio de projetos de insumos básicos de R$ 68 bilhões para deslanchar até 2010, dos quais 40%, ou R$ 27,2 bilhões, serão destinados à compra de máquinas e equipamentos embutidos na expansão da produção dos setores de siderurgia, papel e celulose, mineração e petroquímica, informa Wagner Bittencourt, superintendente de insumos básicos do banco. O BNDES faz coro com a indústria para que as empresas de bens de capital sob encomenda instaladas no país sejam contempladas com uma fatia desse bolo para se fortalecerem nesse novo ciclo de investimentos que está em curso, no qual sofrem forte concorrência das empresas estrangeiras. A perspectiva histórica, baseada na capacidade tecnológica das empresas nacionais, é de que 60% do valor desses bens podem ser fabricados no país. No entanto, a indústria de máquinas e equipamentos teme que a sobrevalorização cambial, a carga tributária e os juros estratosféricos possam provocar uma fuga em massa de encomendas para o exterior, como já vem ocorrendo para a China. Depois da Gerdau Açominas ter encomendado um alto-forno dos chineses, a Belgo Mineira e a Cepar se preparam para fazer o mesmo, como destacaram fontes do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS). Em reunião na semana passada na Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq), o Grupo Gerdau justificou porque comprou um alto-forno chinês. Devido ao preço: R$ 240 milhões (financiados), ou seja quase metade do preço oferecido por outros concorrentes. Para uma área intensiva em capital, como a siderúrgica, o preço é um fator muito relevante, como ficou claro na exposição da Gerdau para representantes de usinas siderúrgicas e fornecedores. Mas o fato gerou queixas dos fornecedores de bens de capital. Na interpretação de José Armando Tadei, do BNDES, esse é mais um problema de competitividade de bens de capital no Brasil para se resolver. Mas ele avalia que no caso da China é realmente difícil competir. Tadei destacou que os chineses vendem projetos de alto-forno "de prateleira", ou seja, apesar de ser um bem sob encomenda, eles o possuem dos mais diversos portes para entrega no curto prazo. Wagner Bittencourt afirmou que o BNDES está atento e empenhado em criar condições de financiamento para mitigar as dificuldades do setor. O banco está condicionando empréstimos a um índice de nacionalização dos projetos de 60%. No momento, seus técnicos estão discutindo o crédito a ser dado à Usina Siderúrgica do Ceará (USC), cujo índice de nacionalização é de 20%. Se esse índice não for ampliado, o banco não deixará de financiar a empresa, mas pode reduzir sua participação de 80% para 60%, por exemplo, e encurtar o prazo de pagamento de dez para quatro anos. "Maximizar a participação de bens nacionais nos projetos é uma ação do banco, que trabalha com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT)", realçou o superintendente. Outra iniciativa em curso é a criação do subcrédito nas operações diretas para o comprador (dono do projeto) de bens de capital adquirir máquinas e equipamentos em condições mais vantajosas no custo e no prazo do crédito. O recém-aprovado projeto da construção da nova fábrica de celulose da Bahia Sul, cujo investimento de R$ 4,1 bilhões contará com apoio de R$ 2,4 bilhões do banco já contará com subcrédito para comprar equipamentos. No total do portfólio de projetos do BNDES, o setor de papel e celulose apresentou investimentos da ordem de R$ 17,5 bilhões, com destaque para o projeto da Bahia Sul e da International Paper, multinacional americana, que pretende aplicar R$ 3,4 bilhões para instalar nova fábrica de celulose no país. O BNDES deverá financiar R$ 2,1 bilhões. Siderurgia e mineração lideram a carteira de insumos básicos com R$ 32,5 bilhões em projetos. Entre eles, realça o projeto de expansão da Alumar, refinaria de alumina da Alcoa, no Maranhão, de 1,4 milhão de toneladas para 3,4 milhões de toneladas. O valor total, incluindo a implantação de nova lavra de bauxita, alcança R$ 3,7 bilhões e o banco vai financiar R$ 2,2 bilhões. A Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), de R$ 2 bilhões, dos quais R$ 1,5 bilhão de recursos só da fábrica de aço, ainda não acertou financiamento com o banco, como contou Paulo Sérgio Moreira da Fonseca, chefe do departamento da área de siderurgia e mineração, mas é um empreendimento de grande relevância no novo ciclo de investimentos. O banco já está analisando o projeto da CSN de expansão da mina de Casa de Pedra, de R$ 1 bilhão. A companhia estuda dar entrada em um novo projeto para produção de placas em Itaguaí, de R$ 6,7 bilhões, mas ainda não enviou carta-consulta. O setor de petroquímica participa na carteira do banco com R$ 17, 5 bilhões em projetos, dos quais R$ 5,8 bilhões serão financiados pela instituição de fomento. O destaque nessa relação é o projeto da nova refinaria de óleos pesados, avaliado em R$ 10 bilhões, uma associação da Petrobras com o Grupo Ultra e o BNDES. O BNDES acredita que não bastam apenas medidas setoriais, nem de proteção comercial para aumentar a competitividade do setor de bens de capital. "É preciso ter uma estratégia de país para trabalhar com esse assunto", ressaltaram Bittencourt e Moreira da Fonseca. Devido a isso, a instituição de fomento está atuando junto com os fabricantes em reuniões com a Abimaq e Abdib para reativar o fórum de desenvolvimento do setor, visando amenizar os efeitos das políticas macros que estão dificultando o desenvolvimento da indústria de base, com destaque para o câmbio, alta carga tributária e juros altos.