Título: Margem apertada sufoca as concessionárias
Autor: Marli Olmos
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2005, Empresas &, p. B6

Veículos Estudo inédito da Serasa mostra como a rentabilidade varia em cada uma das quatro grandes montadoras

A rentabilidade das redes de concessionários Fiat, Ford, General Motors e Volkswagen, as quatro maiores e mais afetadas pela chegada de novas marcas de carros, chegou ao fundo do poço em 2001 e 2002, com médias negativas. Desde então, houve recuperação. Mas as margens nesse tipo de negócio ainda são apertadas se comparadas aos padrões de comércio de outros setores. A rede da General Motors é hoje a menos rentável. Pela primeira vez, a Serasa se aprofundou na pesquisa de um setor em que qualquer divulgação financeira é uma raridade. O estudo se baseou nos demonstrativos contábeis de 1.017 concessionárias das quatro marcas no período de 2000 até junho de 2005. O resultado do acompanhamento dos únicos dados financeiros públicos desse setor no Brasil traçou uma consistente fotografia de cada marca em diferentes períodos. O universo pesquisado representa praticamente a metade das revendas autorizadas dos quatro fabricantes. O raio X tirado desses cinco anos e meio de pesquisa mostra altos e baixos que coincidem com o processo de reação de alguns fabricantes à concorrência. Hoje a situação da rentabilidade mostra a Ford na liderança, com uma margem de 1,3%, seguida pela Fiat (1,2%) e Volkswagen (1,1%). Em último está a GM com 0,4%. "As concessionárias devem estar em uma situação de desalento", diz Márcio Torres, gerente de análise de crédito da Serasa e coordenador do estudo. Com base na média da margem do comércio do mundo, que é de 1,5% a 2,5%, Torres considera difícil manter um negócio com índices abaixo de 1%. "Uma rentabilidade abaixo de 1% compromete o interesse do concessionário em investir", afirma Richard Dubois, da Trevisan. A rede da GM não atingiu 1% em nenhum dos anos do estudo. Na análise da evolução real das vendas do período, já descontada a inflação medida pelo IGP-DI, os concessionários GM registraram queda real 1,7%. No mesmo período, as redes Ford e Fiat apresentaram aumento real de 100,7% e 29,8% no faturamento, respectivamente. Nem a General Motors e nem tampouco a associação que representa seus concessionários, a Abrac, quiseram comentar o estudo. Pelo estudo, a rede Volkswagen teria interrompido um período de crescimento na rentabilidade na primeira metade deste ano. Mas o diretor de vendas e marketing da Volkswagen do Brasil, Paulo Sérgio Kakinoff, diz não reconhecer essa retração. Segundo ele, a média nacional é de 1,4%, com retorno de capital de 17% a 18%, um resultado, segundo ele, da completa reestruturação da rede nos últimos três anos. "O que temos hoje é uma mistura; os melhores ficaram e ainda compraram outros", afirma. Os representantes da associação dos revendedores da marca, a Assobrav, não se pronunciaram. Na rede Fiat, os concessionários dizem que a situação é pior do que mostra o estudo, que indica uma linha quase estável nos dois últimos anos, com a média de 1,1% em 2005. "Estamos beirando o negativo", diz Edmo Pinheiro, presidente da Associação dos Distribuidores Fiat (Abracaf). Pinheiro aponta a política de comercialização de carros por meio da venda direta da montadora como responsável pela descapitalização da rede. Segundo ele, a Fiat está na liderança enquanto que os revendedores da marca não estão ganhando dinheiro. O dirigente diz que a necessidade de conceder descontos para vender come a margem do revendedor. A rede Ford desfruta hoje do processo de recuperação que começou com a renovação dos modelos da marca. O quadro da situação financeira da rede equivale ao retrato da montadora desde que ergueu a fábrica na Bahia para produzir novos carros. Essa rede saiu de uma rentabilidade negativa de 1,5% em 2001 para 1,3%, este ano, a mais alta entre as quatro veteranas do setor. Num discurso de muitos elogios à gestão que tomou conta da Ford num período em que parecia que a montadora ia fechar as portas no Brasil, há cinco anos, o presidente da Associação dos Distribuidores Ford (Abradif), Benedito Porfírio Lima, diz que a margem da rede hoje é 2%. Ele lembra que na época em que a rede estava no fundo do poço, o concessionário que não tinha outras fontes de renda faliu. A Serasa divide o período pesquisado em duas partes. O primeiro, de 2001 a 2003, mostra um ciclo de queda nas vendas, provocado por acontecimentos como a crise de energia elétrica, aumento dos juros e encurtamento dos prazos de financiamento, que reduziu o poder de compra. "A elevação do dólar e o processo eleitoral alimentaram a incerteza, afetando diretamente as vendas de veículos", diz Torres. No segundo período, de 2004 ao primeiro semestre de 2005, verifica-se a evolução de 22% nas vendas. A recuperação, sustenta a Serasa, foi resultado de taxa de juros real menor e melhora na massa real de renda e nas condições de crédito, com a ampliação dos prazos, o que favoreceu o comércio de bens duráveis. O lançamento de veículos bicombustíveis também levou a uma antecipação da decisão de troca do carro.