Título: Ações garantiram maiores ganhos
Autor: Catherine Vieira
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2005, Finanças, p. C1

Fundos de Pensão Imóveis apresentaram a pior rentabilidade nas carteiras, mostra estudo

No país onde o investimento em tijolo ainda atrai muita gente, as ações e os títulos de renda fixa continuam sendo opções muito mais rentáveis. Isso é o que mostra uma análise da carteira dos principais fundos de pensão brasileiros de 1998 até setembro deste ano feita pelo gerente de risco da Fundação Eletros, Jair Ribeiro. De acordo com o trabalho, a parcela aplicada em ações superou todas as demais e também quase todos os indicadores que servem como parâmetro de comparação, como o Índice Bovespa, o Certificado de Depósito Bancário (CDI) e as metas atuariais (inflação mais 6%). Já os imóveis vêm apresentando os piores desempenhos, segundo as estimativas da pesquisa. O gerente de risco da Eletros explica que o trabalho reuniu dados do setor, mas excluiu a carteira da Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, cujo portfólio possui perfil completamente diferente do resto do segmento, com muitos blocos de participação em empresas e alta exposição à renda variável, que representa mais da metade da carteira do fundo. "Excluída a Previ, o percentual aplicado em ações do setor cai muito", lembra ele. Pelo estudo, Ribeiro concluiu ainda que a carteira de ações dos fundos diminuiu bastante ao longo dos oito anos. "Fizemos uma simulação, na qual corrigimos os valores aplicados em ações de 1998 até hoje e percebemos que a alocação em ações daquele ano corrigida resultaria hoje numa parcela 39% do total, sendo que o percentual efetivamente reportado hoje é de 16%", diz. Segundo o especialista, não é possível calcular montantes com precisão, mas essa redução poderia corresponder a mais de R$ 30 bilhões em valores de hoje. O mau desempenho dos imóveis e as restrições impostas ao tamanho da carteira também estimularam uma redução acelerada da exposição ao setor. "Em 98, os imóveis representavam 12% da carteira e agora representam 5%", diz Ribeiro. Ao contrário da parcela de imóveis, que deve se manter pequena, o percentual aplicado em ações deve crescer em médio ou longo prazo. Essa é a disposição que tem mostrado o setor, uma vez que projetam taxas de juros menores no futuro. "As ações têm ajudado a bater as metas com folgas e a gerar superávits que foram muito importantes para os setor. Foram essas sobras de caixa que permitiram aos fundos de pensão atualizar vários parâmetros atuariais sem exigir aportes imediatos das patrocinadoras e sem exigir aumentos de contribuições dos participantes", afirma Ribeiro. Este ano, diz ele, os fundos apresentaram resultados acima da meta pelo terceiro ano consecutivo. Até setembro, segundo os cálculos, a rentabilidade média foi de 13,7%, enquanto a meta medida pelo INPC mais 6% apontava para 8,1%. Mas os ganhos acumulados de 364% pelas carteiras de ações não devem ser analisados de forma isolada, ressalta o autor da pesquisa. "O ganho foi superior, mas o risco que se correu para obtê-lo também foi muito maior", diz Ribeiro, explicando que para chegar a um ganho anualizado de 21,9%, a carteira de renda variável se expôs a um risco de mercado de 34%, enquanto a carteira de renda fixa teve risco de apenas 1,5% para chegar a um retorno anual de 19,6%.