Título: Entrevista: Izabella Teixeira
Autor: Teixeira, Izabella
Fonte: Correio Braziliense, 01/05/2010, Brasil, p. 14

Na chefia do Meio Ambiente desde abril, ministra tem até o fim do ano para modernizar o Ibama

Igor Silveira Leonardo Cavalcanti

Cinco andares abaixo do gabinete, o buzinaço permeado por palavras de ordem e músicas de gosto duvidoso promovido por profissionais da área ambiental em greve disputa espaço com as declarações de Izabella Teixeira, ministra do Meio Ambiente desde o início de abril. Os 27 anos vividos em atmosfera acadêmica fazem com que a bióloga nascida em Brasília queira responder às perguntas didaticamente. Sem partido político ou receio de falar da própria classe, a chefe da pasta e funcionária de carreira do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) desde 1984 ressalta a necessidade de mais qualificação para os técnicos de licenciamento, mas também critica a ausência de planejamento e de estrutura oferecidos à carreira.

Em entrevista exclusiva ao Correio, entre outros assuntos, ela falou sobre as discussões ambientais do Brasil nos próximos meses e problemas em gestões anteriores no ministério. ¿Não me coloquem contra a (ex) ministra Marina Silva. Eu tenho algumas observações sobre o período em que ela esteve à frente do ministério, mas também acho que ela é responsável por muitas melhorias.¿

Tempo é o maior inimigo

Há algum projeto no sentido de melhorar o sistema de concessão de licenças ambientais? Sei que falam de pressão política, mas não vejo dessa maneira. O Brasil está crescendo e tem uma carteira de projetos. Então, temos duas opções: licenciar ou não. Agora, é necessária uma modernização dos procedimentos. Na esfera federal, o Ibama precisa saber como vai funcionar com toda essa demanda. Os estudos de impacto ambiental, usualmente, têm informações que não são necessárias para que as decisões sejam tomadas.

Isso demanda profissionais mais qualificados? Como isso será resolvido? Com capacitação. Elevando a formação e implementando procedimentos claros dentro do órgão para que o profissional saiba exatamente o que fazer. É exatamente isso que estou chamando de modernização da área. Vamos ter regras claras dentro do Ibama para cada setor. Eu tenho US$ 10 milhões do governo federal só para modernizar o Ibama até o próximo ano e vamos fazer isso.

Mas os profissionais reclamam dos salários muito baixos¿ E eu concordo plenamente. Porém na minha opinião, para que o funcionário tenha uma remuneração melhor, é preciso ter uma carreira estruturada. Os analistas ambientais não têm. Isso foi discutido com a associação que representa a classe. Veja só: eu sou uma técnica que tem especialização, mestrado e doutorado. Não ganho um real a mais por causa disso. Está errado!

Por que isso não foi resolvido antes? Eu não tenho clareza sobre as gestões anteriores. Tenho clareza das informações do período em que eu estava aqui. Nós sentamos para negociar e o processo está em curso. Um dos pré-requisitos para as mudanças é ter um programa de qualificação. Além disso, os funcionários querem aumento salarial. No entanto, sem a carreira estruturada, não consigo discutir o problema do salário.

Falta continuidade na gestão da política ambiental brasileira? Nessa área, os resultados são percebidos a médio prazo. Além disso, é uma política transversal, não é isolada setorialmente. A ministra Marina Silva trouxe à tona muitos assuntos da pauta socioambiental, mas também trouxe muito de uma regionalização para a Amazônia. Essa não é uma crítica, mas uma observação. As questões ambientais no Brasil, muitas vezes, são tratadas só a partir da Amazônia. Todos nós sabemos que não são limitadas a isso.