Título: Transição no Fed vai elevar volatilidade
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2005, Finanças, p. C2

O mês de outubro trouxe uma primeira mostra do aumento na volatilidade do mercado de renda fixa internacional que a transição no poderoso Fed, o banco central americano, vai trazer. Afinal, o maestro Alan Greenspan está na presidência do Fed por 18 anos e sua simples presença nesta posição contribui para a estabilidade. A mudança significa incerteza, que o mercado financeiro traduz com oscilações bruscas de preço. O mesmo aconteceu no passado: quando o nome de Greenspan em substituição a Paul Volker foi anunciado, em 2 de junho de 87, os juros dos títulos do Tesouro americano de vencimento em dez anos tiveram alta de 27 pontos básicos, para no final do mês caírem 34 pontos básicos, segundo relatório do economista para América do Norte da Merrill Lynch, David A. Rosenberg. Agora, as taxas dos papéis de dez anos até que subiram menos após a confirmação do nome de Ben Bernanke, no dia 25, chegando no dia 26 ao pico de 4,60% ao ano, alta de 15,4 pontos básicos com relação ao dia 24. Já estão voltando para um nível próximo aos 4,55% ao ano. Como agora, as bolsas americanas subiram com força após a indicação de Greenspan em 87 - o índice Dow Jones, das ações mais negociadas em Nova York, chegou a subir 3% em dois dias. Rosenberg considera que mesmo depois de Bernanke assumir, a volatilidade no mercado deve continuar forte. Greenspan tem um controle rígido sobre tudo o que é publicado pelo Fed, conta Rosenberg, e basicamente dirige o banco central americano como um "autocrata". Já Bernanke tenderá a ser mais "democrata", permitindo aos vários integrantes do Fed a expressão mais livre de seus pensamentos, o que deve gerar mais volatilidade. Rosenberg discorda da visão de que Bernanke será mais leniente com a inflação e lembra que ele votou por todas as sete primeiras altas nos juros americanos enquanto era governador do Fed. Apesar de defender o regime de metas de inflação, Bernanke já anunciou ter por objetivo um nível de 1% a 2% ao ano no núcleo do índice de preços PCE, segundo Rosenberg. Como esse índice está próximo dos 2%, Bernanke deve continuar a subir os juros quando assumir, acredita o analista. Para a reunião do Fed de hoje, o mercado não tem dúvidas: alta de mais 0,25 ponto percentual. Já a decisão do Banco Central brasileiro, de reduzir o número de reuniões do Comitê de Política Monetária em 2006, não foi bem vista por analistas como Ricardo Amorim, chefe para América Latina do WestLB. Segundo ele, a alteração no número de reuniões cria volatilidade no mercado de juros brasileiro, pois traz incertezas sobre os próximos passos, além de reduzir a flexibilidade do BC para responder a possíveis choques ou surpresas. Amorim nota que a decisão é conveniente politicamente, no entanto, pois com o novo calendário os juros básicos, se forem reduzidos em 0,5 ponto percentual por reunião, estarão a 15% ao ano nas eleições de outubro de 2006, taxas mais consistentes com a meta de 4,5% ao ano. Com o calendário antigo, nota Amorim, o Copom poderia ter de passar pelo desconforto político de anunciar em alguma reunião que estava mantendo taxas inalteradas. O BC do México também reduziu ontem de 24 para 12 seu número de reuniões em 2006.

Mudança no calendário do Copom é mal-vista

Depois de um outubro conturbado, o mês terminou em calmaria ontem, com a nova queda nos preços internacionais do petróleo, que afastou os temores de inflação mais forte no futuro, conta Ricardo Simone Pereira, diretor do Multi Commercial Bank. Indicadores que mostram atividade econômica robusta nos EUA ajudaram no otimismo, assim como o anúncio de que o Brasil já conseguiu ultrapassar sua meta de superávit fiscal primário (sem contar os juros) para este ano, obtendo os surpreendentes R$ 86,5 bilhões, ou 6,1% do Produto Interno Bruto, de janeiro a setembro. O mercado ignorou os novos elementos da crise política e o risco Brasil terminou o dia em baixa, de 1,65%, para 357 pontos básicos, uma alta de 3,78% no mês e queda de 6,79% no ano. A Bolsa de Valores de São Paulo subiu 2,98%, terminando o mês em baixa de 4,40% e o ano em alta de 15,26% no ano. Em dia de formação da taxa média de câmbio (ptax) que vai indexar a maior parte dos contratos de outubro, o Banco Central não atuou e as tesourarias e investidores vendidos derrubaram o dólar, que caiu 0,49%, terminando o dia a R$ 2,2530. A alta no mês foi de apenas 1,03%, apesar das compras estimadas em US$ 3 bilhões do Banco Central no mercado de dólar à vista. No ano, o dólar acumula queda de 15,11%. Os juros ficaram estáveis, a 17,558% nos contratos de vencimento em janeiro de 2007 na Bolsa de Mercadorias & Futuros, com relação aos 17,553% de sexta-feira e 17,627% ao ano do final de setembro.