Título: Incra poderá considerar fazendas improdutivas
Autor: Angelo Pavini e Danilo Fariello
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2005, EU &, p. D2

Boi Gordo

O Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) começou ontem a vistoria de duas propriedades da Fazendas Reunidas Boi Gordo (FRBG) e pode avaliá-las como improdutivas, tornando ainda mais complexo o processo de recuperação dos investimentos feitos por mais de 30 mil pessoas. O alerta é do síndico da massa falida, Gustavo Sauer de Arruda Pinto. Caso sejam consideradas improdutivas, as duas fazendas serão desapropriadas e pagas com títulos da dívida agrária (TDAs) e uma parte em dinheiro. Os credores da Boi Gordo esperam há quatro anos reaver pelo menos parte do dinheiro investido. Até hoje, nenhum investidor, na maioria pequenos poupadores, conseguiu um centavo do dinheiro que estava aplicado em outubro de 2001. Espera-se que o ressarcimento demore pelo menos mais quatro anos, com um sério risco de os aplicadores receberem menos do que investiram. Segundo Sauer, dos 31.423 investidores, 70% tem menos de R$ 15 mil para receber. As duas fazendas que estão sendo vistoriadas pelo Incra são justamente as que possuem mais benfeitorias e estão em fase final de avaliação para emissão de laudo que abrirá caminho para um leilão. Localizadas em Itapetininga, no interior de São Paulo, próximo à rodovia Raposo Tavares, elas contam com casas para visitantes, áreas de confinamento de gado e até laboratório de inseminação. Uma das fazendas chegou a servir de cenário para a novela "O Rei do Gado". "Tivemos problemas com os arrendatários dessas propriedades, houve fraude e estamos tentando retirá-los, mas enquanto isso não ocorre as fazendas não devem cumprir as exigências de produtividade", afirma Sauer. "Mas se trata de um caso excepcional, que envolve a falência de uma empresa com milhares de pequenos credores, há um caráter social nesse processo", diz. O síndico informou que conseguiu manter as fazendas de Mato Grosso como produtivas perante o Incra. Ele lembra ainda que, como há muitas benfeitorias, que devem ser pagas em dinheiro, o governo teria de gastar mais para assentar poucas famílias. Pelos cálculos de Sauer, os 500 hectares das fazendas seriam suficientes para apenas 25 assentamentos. O síndico disse que conseguiu apoio do Ministério Público e apresentou requerimento ao juiz da falência para tentar evitar a desapropriação das terras.