Título: Relatório apontará tráfico de influência
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 08/11/2005, Política, p. A6

O relatório parcial que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios irá divulgar na quinta-feira terá mais de 60 páginas e pelo menos três planilhas com detalhes da contabilidade do empresário Marcos Valério. Nele, os integrantes da comissão já sabem que apontarão ao menos um crime, o de tráfico de influência. "Mesmo que não haja irregularidade nos contratos de empréstimos que ele fez, o fato é que pela primeira vez na história do Brasil se dá como garantia um contrato de publicidade com o governo e esse contrato é usado para sacar dinheiro nos bancos para repassar ao partido do governo", disse ontem o sub-relator Gustavo Fruet (PSDB-PR). "E se esses empréstimos fossem executados e ele não pagasse, o que os bancos iriam receber? Os contratos de publicidade feitos por ele nesse governo. Então é evidente que aí houve um direcionamento, no mínimo um favorecimento." Fruet e o relator da CPI, Osmar Serraglio (PMDB-PR), estiveram em Curitiba para participar de um debate sobre reforma política e confirmaram que irão pedir o indiciamento de Valério e do ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares. Os dois não descartaram o pedido de indiciamento de outras pessoas, mas adiantaram que não existem parlamentares entre elas, já que o mensalão está sendo investigado por outra comissão. "Que não se espere nada bombástico para quinta", avisou Fruet. Segundo ele, trata-se de uma "desova de informações". "Queremos apresentar a contabilidade do Marcos Valério sistematizada e compará-la com a movimentação financeira. Temos de mostrar cada uma das operações e isso vai exigir paciência de quem quiser estudar o caso", disse o sub-relator. Segundo ele, o relatório trará as diferentes formas de operação e pagamento que Valério usou para repassar dinheiro a pessoas que teriam sido indicadas por Soares. Um dos destaques do documento será o do envolvimento do Banco do Brasil. Serraglio defendeu-se das acusações que recebeu após tornar público o repasse de R$ 10 milhões do BB, reafirmou a denúncia e voltou a admitir que outras estatais podem estar envolvidas. "Temos evidência de que há outras, mas não temos ainda o alcance de até onde se chegou", disse. O relator admitiu que pode pedir o adiamento da CPI por mais quatro meses e afirmou ter encontrado muitas "cascas de banana" no caminho. Fruet disse que, além de encontrar quem foi corrompido e quem se beneficiou do dinheiro público, a CPI quer saber quem são os corruptores. "Vamos analisar os gestores e responsáveis pelos contratos do Banco do Brasil e da Eletronorte e iremos pedir auditoria nos contratos do Marcos Valério com empresas privadas, tendo como critério os maiores contratos realizados a partir de 2003 e 2004." Segundo ele, nesses anos algumas empresas que já contratavam as empresas de Valério começaram a gastar mais em publicidade e outras, que nunca tinham contratado as empresas dele, começaram a contratá-las. O deputado Fruet acredita que o indiciamento por tráfico de influência pode levar a outros crimes e novos indiciamentos. Ele e Serraglio disseram que pretendem apresentar denúncias consistentes para evitar que os culpados sejam absolvidos por falta de provas. Mas garantiram que não vão poupar ninguém. Os integrantes da CPI querem agora ter acesso às contas do publicitário Duda Mendonça nos Estados Unidos. A documentação já chegou ao Brasil, mas ainda não foi entregue à comissão.