Título: O vale-tudo por um mandato
Autor: Ana Maria Campos e Lilian Tahan
Fonte: Correio Braziliense, 02/05/2010, Cidades, p. 34

Na tentativa de ganhar apoio para resgatar a vaga no PSB, o distrital Rogério Ulysses apostou na candidatura de Rosso ao governo tampão

Um dos 13 votantes na eleição indireta de abril, o distrital Rogério Ulysses (sem partido) tentou casar a escolha do novo governador à possibilidade de se candidatar à reeleição. Ulysses foi expulso do PSB em função de ser um dos investigados no escândalo da Caixa de Pandora (leia Memória). Cada um dos eleitores de Rogério Rosso teve um interesse ao indicar o peemedebista para cumprir o mandato-tampão até dezembro. O de Rogério Ulysses é a aposta de ainda ter chance de concorrer nas eleições de outubro. Hoje, isso é impossível porque o distrital está sem partido e sequer pode se filiar a outra agremiação já que a lei impede a mudança há menos de um ano para o pleito. Uma das investidas do parlamentar, desgastado pela crise, foi pedir a intercessão do novo governador por sua recolocação partidária. Outra, garantir a manutenção do que lhe restou após a avalanche de Pandora. Rogério Ulysses recebeu a promessa do grupo que apoiou Rosso de ter assistência jurídica para tentar a mudança de partido, caso não consiga reverter sua situação no PSB. Esse grupo, liderado pelos deputados Benício Tavares (PMDB) e Alírio Neto (PPS), acha possível que Rogério Ulysses garanta o direito de se candidatar por outro partido sob a justificativa de que ele foi expulso do PSB sem ter chance de se defender das acusações de que recebia mesada em troca de apoio ao ex-governador José Roberto Arruda. Se a fatura cobrada na eleição indireta não surtir os efeitos esperados por Rogério Ulysses, o distrital vai ficar, pelo menos, quatro anos sem mandato. E não terá sequer a possibilidade de transferir votos a um representante de seu grupo político. Seus principais assessores também foram expulsos do PSB. Até agora, 13 pessoas ligadas a Ulysses perderam a legenda e a possibilidade de se candidatar em outubro. Os aliados do distrital foram alertados pela executiva regional do partido a deixar os cargos no governo, no gabinete do deputado ou ainda na estrutura da Câmara Legislativa, caso tivessem sido nomeados por indicação do mesmo. Os que não obedeceram à determinação foram desligados por meio de um comunicado mandado por e-mail. ¿Fica vossa senhoria notificada que a executiva regional do PSB no DF, por unanimidade, deliberou pela sua expulsão do quadro de filiados desse partido em razão do não cumprimento da resolução mencionada¿, dizia a mensagem. A resolução, no caso, era justamente a que ordenava a saída dos cargos vinculados a Rogério Ulysses. E, entre a sigla partidária e o emprego, o grupo de Rogério optou pelo segundo. Ao fazer essa escolha, no entanto, perderam a chance de concorrer ao pleito. Um dos nomes que poderia ser uma alternativa em outubro é o de Cristiomário Medeiros. Mas ele também foi impedido por força da decisão do PSB. Cristiomário é escrivão da Polícia Civil e atualmente chefia o gabinete de Rogério. Nas últimas eleições, chegou a ser cotado para ser candidato. Durante o mandato de Ulysses, ele teve forte atuação na CPI dos Cemitérios.

Ajuda ao PT Com a implosão do grupo de apoio, que ocorreu dez dias antes da eleição indireta, todos os esforços do parlamentar para se manter no poder se voltaram para a perspectiva de reconquistar a legenda. Assim, Rogério votaria em qualquer um dos candidatos que tornassem esse objetivo mais palpável. Poucos dias antes da escolha do novo governador, o distrital pediu ajuda para a sua causa ao PT. Votaria no candidato petista, se preciso. Numa conversa com o então concorrente do partido, o professor Antônio Ibañez, o assunto chegou a ser tratado. A aposta do grupo de Rogério era a de que a intermediação do PT junto à executiva nacional poderia lhe dar esperanças. Mas o acordo não se confirmou porque a ajuda só teria validade em caso de vitória. E a candidatura de Ibañez murchou diante da negociação em torno de Rosso. Por isso, Rogério, o sem partido, começou a trabalhar com a perspectiva de ajudar a eleger Rosso, então potencial governador. Ulysses admite que o único cenário que lhe interessava no dia da escolha do governador tampão era o apoiar o vencedor. ¿Poderia ter votado em qualquer um dos candidatos, contanto que tivesse a certeza de que se tornaria o governador. Se eu perdesse a eleição, perderia o pouco que me restou. Então agi como se estivesse num Big Brother. Entrei para ganhar¿, reconheceu o deputado. Quando o parlamentar fala em perder tudo, faz referência à administração de São Sebastião, que até hoje está sob a sua ingerência. É nessa cidade que o político mantém base eleitoral. E é de lá, portanto, que poderia reunir os votos para sua reeleição, caso ainda tivesse legenda. Ao aportar seu voto em Rosso, o deputado não só garantiu a permanência dos cargos em São Sebastião, como agora deve expandir seu poder de atuação. Rogério negocia com o novo governador a indicação de, pelo menos, mais uma administração, a do Varjão. ¿Sei que a recuperação da minha imagem passa pela realização de obras, vou tentar turbinar o orçamento da cidade. Para mim, essa é uma garantia até mais importante do que a de receber outras cidades onde não tenho projeção¿, acredita. Depois que foi expulso do PSB, Ulysses entrou com um recurso junto à executiva nacional do partido. Mas o pedido de reconsideração ainda não foi votado. Se a legenda confirmar que ele está fora, o que deve ocorrer, a última cartada do distrital será tentar reverter a situação na Justiça Eleitoral. Vai alegar perseguição política. Os apoiadorse de Rogério sustentam que o distrital teria sido expulso em virtude de uma disputa interna e que o episódio da Pandora foi usado como um pretexto para tirá-lo do pleito em outubro. Segundo essa tese, desde 2006, Joe Valle seria o candidato preferido do deputado federal e principal nome do PSB no Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB). Valle é secretário de Ciência e Tecnologia do governo federal e chegou a ocupar a presidência da Emater no DF por cinco dias até a deflagração da Operação Caixa de Pandora, motivo pelo qual voltou para a Esplanada dos Ministérios. Com a saída de cena de Rogério, Joe passa a ser o cabeça do PSB local na disputa por uma cadeira na Câmara Legislativa em outubro.