Título: Gás importado terá reajuste trimestral em 2006
Autor: Cláudia Schüffner
Fonte: Valor Econômico, 08/11/2005, Empresas &, p. B1

Energia

A Petrobras vai reajustar o preço do gás importado da Bolívia em bases trimestrais a partir de janeiro de 2006. A estatal volta a aplicar a fórmula do contrato que prevê reajustes com base na variação de uma cesta de óleos. O gás boliviano estava sendo vendido com desconto no Brasil desde janeiro de 2003, quando a Petrobras Bolívia e a Repsol, sua sócia naquele país, fizeram um acordo para manter o preço do gás fixo em dólar com o objetivo de aumentar o consumo no Brasil. Por 32 meses, até setembro passado, o preço caiu ajudado pela valorização do real frente ao dólar. Nesse período, o gás importado só tinha sido reajustado uma vez, quando a Petrobras anunciou um reajuste (na tarifa de transporte) de 13% a partir de 1º de setembro e de mais 10% em 1º de novembro. Já o gás nacional, que ficou sem aumento durante o mesmo período, também foi reajustado em duas parcelas, de 6,5 % e 5% em setembro e novembro, respectivamente. O gerente executivo de gás, energia, marketing e comercialização da Petrobras, Rogério Manso, explicou ontem que o impacto da medida para as distribuidoras estaduais deve variar de acordo com o peso do gás importado no mix de cada empresa. Manso também adiantou que a Petrobras está avaliando com clientes a possibilidade de filtrar a volatilidade do gás importado. "Estamos estudando um mecanismo que evite a flutuação muito intensa no preço do gás boliviano", explicou Manso, que participou ontem do III Fórum de Óleo e Gás promovido pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças IBEF), no Rio. No caso da Ceg e da Ceg Rio, a participação do gás importado da Bolívia no mix de distribuição é de aproximadamente 25%, já que o Estado compra uma grande parte do gás produzido na bacia de Campos. O aumento do preço do gás natural já está se refletindo na Ceg e na Ceg Rio, que estão entre as maiores distribuidoras do país. Daniel Jordá, presidente da espanhola Gas Natural, que controla as duas companhias, reclamou ontem que os reajustes estão trazendo prejuízos às distribuidoras. Isso porque os clientes estão preferindo utilizar o gás de cozinha (GLP), que tem preço subsidiado. "Minha preocupação é com o mercado residencial e com o mercado comercial de baixo consumo. Capturamos uma média de 400 a 500 novos clientes comerciais de baixo consumo por ano e agora a perda é quase igual à entrada. E isso é muito ruim porque todo o esforço de infra-estrutura está se perdendo", explicou Jordá. A assessoria da Ceg informou que até o momento a companhia conquistou 577 novos clientes comerciais de baixo consumo, ao mesmo tempo em que perdeu 265 clientes antigos. As perdas são maiores na classe residencial, onde o gás natural não consegue competir com o Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) entre os clientes que consomem até 15 metros cúbicos, o equivalente a um botijão de 13 Kg. As duas companhias estão investindo R$ 300 milhões este ano. Ao mesmo tempo em que negocia os aumentos de preços e acaba os subsídios, a Petrobras também estuda uma alternativa para o Gasoduto Sudeste Nordeste (Gasene). Manso disse que uma das possibilidades é de construir uma planta de liquefação de gás para atender a mercados como o Nordeste, que poderá ser atendido com Gás Natural Liquefeito (GNL). Essa é uma das alternativas em estudo na estatal para substituir o gasoduto diante das dificuldades do projeto. "O custo dobrou e isso não pode ser ignorado. Já havia dificuldade para implementação e quando o custo dobrou (de US$ 1,2 bilhão para US$ 2,3 bilhões) isso ganhou força. Agora, se o projeto vai prosseguir, dependerá dos novos orçamentos e da avaliação da companhia sobre os benefícios", disse Manso. A construção de uma unidade de GNL no Sudeste para atender ao mercado do Nordeste para substituir "um gasoduto que vai ficar muito tempo ocioso" também foi sugerida pelo presidente da BG, Luiz Carlos Costamilan. Segundo ele, a BG tem interesse em ser sócia de um projeto como esse, mas não foi convidada pela Petrobras. De qualquer modo, Costamilan disse que "o maior desafio hoje no Brasil é encontrar mais gás".