Título: Estrangeiro aposta na queda do dólar
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 08/11/2005, Finanças, p. C1

Câmbio Posições vendidas na BM&F crescem US$ 850 milhões, para US$ 7,53 bi, em apenas três dias úteis

A expectativa de queda mais forte nos juros brasileiros ampliou a venda de dólar futuro pelos investidores estrangeiros na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) no início deste mês. Esse movimento é o grande responsável pela desvalorização do dólar, de 3,80% em seis quedas consecutivas, para R$ 2,2040, seu menor nível desde 30 de abril de 2001. Se acha que os juros futuros vão cair, o investidor compra agora taxas prefixadas em reais e obtém juros mais vantajosos antes que eles caiam. Os contratos em aberto de dólar futuro e DDI (o cupom cambial, juros em dólar no mercado interno) mostram posições vendidas de US$ 7,53 bilhões na BM&F na sexta-feira, último dado disponível. É um aumento de US$ 850 milhões na comparação com os US$ 6,68 bilhões do dia 31 de outubro. O movimento forte e concentrado tem levantado rumores entre os participantes do mercado de que o Banco Central vai anunciar hoje a volta dos chamados swaps reversos, por meio dos quais a autoridade monetária compra dólar futuro, evitando uma puxada no câmbio à vista. No início deste ano, o BC comprou US$ 8,7 bilhões por meio desses swaps reversos, que deixaram de ser vendidos em meados de março último. O Banco Central até tem comprado dólar no mercado à vista, engrossando as reservas internacionais, o caixa em dólar do país. Foram US$ 3,6 bilhões em outubro. Sua atuação ontem foi fundamental para fazer a cotação voltar para cima dos R$ 2,20 - chegou a cair para R$ 2,1970. Mas, em dias de puxada maior nos mercados futuros, a compra no mercado à vista não é suficiente para impedir o tombo no dólar, que, diferentemente do que aconteceu no ano passado, está se valorizando contra o euro e o iene no exterior. Ontem, o anúncio de que a balança comercial teve saldo positivo de US$ 889 milhões na primeira semana de novembro surpreendeu positivamente os investidores. A maior calmaria no mercado de títulos do Tesouro dos Estados Unidos e a queda nos preços do petróleo para baixo de US$ 59 o barril trouxeram ainda mais tranqüilidade, e os exportadores passaram a apostar que é melhor fechar o câmbio já, pois as cotações do dólar podem cair ainda mais. "Mesmo com a queda no dólar e nos juros básicos Selic, ainda é muito vantajoso para o investidor externo montar posições vendidas em dólar e investir nos juros prefixados em reais", disse Caio Santos, estrategista da área de gestão de fortunas do BankBoston. Esse investidor toma dinheiro emprestado pagando taxas de juros não superiores a 5% ao ano e investe em juros em reais, de pouco mais de 17% ao ano para janeiro de 2007, ganhando os 12% de diferença mas taxas mais a valorização do real. No ano, o dólar caiu 16,46%. Na visão de Santos, o dólar deve ficar entre R$ 2,20 e R$ 2,25, se o BC não resolver vender os swaps reversos e sem surpresas externas, para chegar aos R$ 2,30 no final do ano. Em 2006, deve subir mais, mas perder dos juros como investimento, avalia. Hugo Penteado, economista-chefe da ABN Asset Management, também acredita que a tendência é de estabilidade no curto prazo ou até mesmo de queda. Ele prevê o dólar a R$ 2,30 no final deste ano e entre R$ 2,30 e R$ 2,40 no final de 2006.