Título: Construção rima com escola
Autor: Otoni, Luciana
Fonte: Correio Braziliense, 01/05/2010, Economia, p. 16

1º de maio

Nível crescente de formação dos operários está puxando a renda para cima. Profissionais com 11 anos de estudos ganham, em média, R$ 1.917

Luciana Otoni O aumento do nível de escolaridade está melhorando a renda do trabalhador da construção civil. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os operários da construção civil com mais de 11 anos de escola recebem, em média, R$ 1.917,20. Para os que possuem curso superior, a renda sobe para R$ 5.410,00. Essa realidade era outra há oito anos. Em 2002, levantamentos do mesmo IBGE e do Ministério do Trabalho mostravam que quase dois terços dos ocupados no setor (63,6%) não haviam concluído o ensino fundamental e apenas 36,% chegavam ao ensino médio.

Hoje, segundo as estatísticas, o número de operários que estudaram mais de oito anos chega a 47,8% e um quarto dos trabalhadores, 26,6%, têm 11 anos ou mais de estudo. Em quase uma década, 442,8 mil profissionais passaram pelos bancos da escola e, segundo analistas do mercado de trabalho, o momento atual representa apenas o início de um processo que tende a ganhar maiores dimensões. Um dos motivos para isso é o aumento do emprego de mulheres nos canteiros de obras espalhados pelo país. Com maior tempo em bancos de escolas do que os homens e consideradas dedicadas e atenciosas aos detalhes, elas têm sido cotadas para as exigentes tarefas de acabamento e finalização das edificações.

Para várias dessas operárias, a carteira assinada em uma empresa de engenharia e construção representa a porta de saída de um destino fadado a prestar serviços domésticos em casas de famílias, sem acesso a oportunidades, a ascensão profissional e a direitos trabalhistas. Ana Cristina Gomes é um exemplo que figura nessas estatísticas. Casada, mãe de quatro filhos e moradora de Luziânia, ela é uma das responsáveis pelo acabamento de um prédio em Águas Claras. ¿As pessoas podem achar tudo em uma obra muito feio e pesado para uma mulher, mas aqui somos tratadas de igual para igual e respeitadas como profissionais¿, afirma. Ana Cristina está prestes a terminar o segundo grau e se prepara para uma especialização para se tornar técnica em segurança no trabalho.

A pedagoga e ex-professora Maria José Queiroz, avó de quatro netos, é outro reforço para a elevação do nível de capacitação na construção civil. Após a aposentadoria, ela se matriculou em um curso técnico de segurança e, há 10 anos, trabalha na Via Engenharia. Esclarecida e preparada, tem a tarefa de fiscalizar se os trabalhadores estão protegidos com os equipamentos de segurança. ¿Gosto do que faço e estou satisfeita. O que vejo aqui são homens e mulheres se ajudando nas tarefas¿, diz, orgulhosa, sobre sua nova função.

Descoberta Não é somente as mulheres que explicam o aumento do nível de escolaridade entre os operários da construção civil. O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Safady Simão, lembra que o trabalho de preparação da mão de obra teve início anos atrás, quando os empresários começaram a levar a escola para as obras. ¿Maior nível educacional leva à melhora da renda. Os trabalhadores estão descobrindo isso e temos conseguido realizar com sucesso ações conjuntas para montar turmas de aula e bibliotecas nos canteiros. É com isso que contamos para enfrentar o desafio de fazer inovações tecnológicas no setor¿, destaca.

Outra boa notícia é a redução do analfabetismo. De acordo com a CBIC, em 2002, 8% dos trabalhadores possuíam um ano de estudo, somando 107,9 mil empregados. Pesquisa recente feita neste ano confirmou queda desse percentual para 5% em 2010, o que equivalente a 83,2 mil pessoas.

As pessoas podem achar tudo em uma obra muito feio e pesado para uma mulher, mas aqui somos tratadas de igual para igual e respeitadas como profissionais¿

Ana Cristina Gomes,operária

Gosto do que faço e estou satisfeita. O que vejo aqui são homens e mulheres se ajudando nas tarefas¿

Maria José Queiroz, técnica de segurança do trabalho