Título: Desafios do emprego
Autor: Otoni, Luciana
Fonte: Correio Braziliense, 01/05/2010, Economia, p. 16

1º de maio

Depois de anos de frustrações, trabalhadores podem comemorar acriação recorde de vagas com carteira assinada e salários melhores. Mas país precisa intensificar a qualificação da mão de obra, sobretudo a mais jovem

O Brasil comemora hoje o Dia do Trabalhador ainda distante de esbanjar taxas de desemprego aceitáveis, entre 3% e 4%. Mas não há como negar o avanço expressivo na oferta de postos com carteira assinada por meio da abertura de 12 milhões de vagas entre 2003 e 2009. Pela primeira vez, em décadas, o dinamismo das contratações conjugou aumento da renda e ampliação do nível de escolaridade dos trabalhadores. Em meio a esses progressos, os analistas traçam cenários positivos, mas alertam que o país tem pela frente o desafio de inserir no mercado pelo menos 5,5 milhões de pessoas que, atualmente, não conseguem ocupação por falta de qualificação. E, acima de tudo, terá de abrir oportunidades para a população jovem, a maior vítima da seletividade maior dos empregadores.

A demanda interna aquecida, a massa salarial maior e o crédito em alta ajudaram o mercado de trabalho brasileiro a enfrentar a crise financeira mundial de cabeça em pé, de forma que o país chegou em fevereiro de 2010 com taxa de desemprego de 7,4%, a menor da série histórica pesquisada pelo IBGE para aquele mês desde 2002 e a mais baixa em um ranking de 22 países (veja quadro nesta página). ¿O Brasil está melhor não só em comparação a outros países, como também em relação a seu próprio passado¿, destaca a economista Luíza Rodrigues, do Banco Santander, ao lembrar que após a geração de pouco mais de 1 milhão de postos em 2008, o Brasil encerrou o ano passado com 995 mil vagas e se prepara para abrir 2 milhões de oportunidades em 2010 (leia mais na página 18).

A economista analisa que a legislação trabalhista ¿ que torna oneroso para os empresários admitir e demitir empregados ¿ confere resistência ao mercado, impedindo dispensas em massa em períodos de incerteza sobre o ritmo da economia. ¿Durante a crise, vários empresários preferiram aguardar antes de cortar pessoal e buscaram outras soluções como a negociação de férias coletivas¿, lembra.

Céu de brigadeiro O Santander projeta, para o fim do ano, taxa de desemprego de 7%, um feito e tanto. ¿Traçamos um cenário favorável em que haverá continuidade do crescimento econômico. O Brasil passa por uma grande mudança de redução da informalidade da mão de obra e de forte oferta de vagas com carteira assinada¿, diz Luíza. Para ela, ¿o desafio é elevar o nível de qualificação do trabalhador brasileiro. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 5,5 milhões de pessoas não conseguem trabalho porque não têm formação adequada. Essa é uma desvantagem que temos que vencer¿, pontua.

Educação Considerando uma população de 193 milhões de pessoas, cerca de 100,5 milhões compõem a População Economicamente Ativa (PEA), das quais 93 milhões trabalham e 47 milhões possuem carteira assinada. Para Marcelo Neri, pesquisador do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV), a tendência é de números ainda mais vistosos. Ainda que haja o desafio de ampliar a qualificação da mão de obra, o pesquisador salienta que, nos últimos anos, houve avanços na escolaridade. A seu ver, até a metade da década de 90, levava-se, em média, 10 anos para que a classe trabalhadora elevasse o nível educacional em 1 ano ¿ atualmente, essa média baixou para seis anos.

Neri também destaca como avanços o aumento de 17% na renda salarial entre março de 2004 e igual mês de 2010. Outro dado positivo é o percentual dos trabalhadores com carteira assinada, que aumentou de 46% para 53%. Para efeito de comparação, a taxa de empreendedorismo (que reflete o universo dos trabalhadores com negócios próprios) passou de 26% para 23%.

¿O mercado de trabalho passa por profunda mudança sem que tenha havido nenhuma reforma trabalhista. E a perspectiva é favorável porque a economia continuará em crescimento e o nível de escolaridade do trabalhador está em expansão¿, projeta Neri. Ele cita a realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas no país, a exploração das reservas de petróleo e o dinamismo do mercado interno como fatores que estimularão a criação de vagas com carteira assinada nos próximos anos.

Entre os setores produtivos, a indústria comemora a recuperação e se apresenta como a que mais oferta postos de trabalho. Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, esse 1º de Maio é para ser comemorado. ¿Hoje, temos a taxa de desemprego que é a mais baixa da história e a menor dos países do G -20. É um Primeiro de Maio importante para a história do país¿, conclui.

O Brasil está melhor não só em comparação a outros países, como também em relação a seu próprio passado¿

Luíza Rodrigues, economista do Banco Santander