Título: Juros futuros têm espaço para cair
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 08/11/2005, Finanças, p. C2

Os juros continuaram sua rota de queda nos mercados futuros e ainda têm espaço para cair, na visão de especialistas dos bancos. Mesmo os economistas que acreditam que os números da produção industrial em setembro, a serem divulgados amanhã, não vão mostrar queda maior do que o 1% estimado pela média do mercado, ainda vêem prêmio nas taxas futuras. É o caso do economista-chefe do ABN Asset Management, Hugo Penteado. "Não há mudança que indique um enfraquecimento na economia de forma geral", avalia ele, que aposta na queda de 0,9% da produção em setembro e considera os 1,9% estimados por alguns "um exagero". Segundo Penteado, o crédito continua em expansão, assim como a massa salarial, a exportação e a criação de novos empregos. As quedas nas taxas básicas de juros que foram iniciadas pelo Banco Central em setembro, de 0,75 ponto percentual acumulado, para 19% ao ano, ainda não tiveram efeito expansivo na atividade econômica, avalia ele. "Os juros começaram a cair agora." Ele acredita, no entanto, que as taxas reais de juros básicas Selic (descontadas a inflação) vão cair dos cerca de 13% de agora para os 10% ao ano em 2006. "Ficarão ainda elevadas", avalia. Ele aposta que o Comitê de Política Monetária (Copom) vai cortar as taxas básicas nominais em um ritmo de 0,5 ponto percentual por reunião neste ano e 0,75 ponto nas quatro primeiras reuniões de 2006, com a última queda para 15% em junho do ano que vem. Se o mercado fosse colocar no preço dos ativos as suas projeções, as taxas de juros entre julho de 2006 e abril de 2007 estariam com um prêmio de aproximadamente 0,5 ponto percentual, diz Penteado. Ontem, os contratos de vencimento em janeiro de 2007, os mais negociados na Bolsa de Mercadorias & Futuros, projetavam juros de 17,28% ao ano, uma queda na comparação com os 17,35% ao ano de sexta-feira e de 17,56% ao ano do dia 31 de outubro. Já os contratos de vencimento em janeiro de 2006 projetavam 18,48% ao ano, com relação aos 18,50% ao ano de sexta-feira e aos 18,53% ao ano do dia 31 de outubro.

Risco-Brasil acumula queda de 8% neste ano

A inflação também não será um obstáculo à queda na taxa básica Selic, diz Caio Santos, estrategista da área de gestão de fortunas do BankBoston. Segundo ele, apesar de projeções do mercado terem mostrado uma puxada em alguns índices de inflação no curto prazo, a alta se deve basicamente a fatores "pontuais", como a alta nos preços do combustível e do boi por causa do choque de oferta decorrente da febre aftosa. "A velocidade da queda nos juros em 2006 vai depender também do cenário externo, que poderá ser menos benigno do que o deste ano, e de eventos políticos em função da proximidade das eleições", segundo o analista. O mercado externo teve mais um dia tranqüilo, com o risco-Brasil medido pelo índice EMBI + do JP Morgan a 353 pontos básicos, queda de 0,56% no dia e de 7,83% no ano.