Título: BID propõe agenda para fomentar o crédito em países latino-americanos
Autor: Catherine Vieira
Fonte: Valor Econômico, 08/11/2005, Finanças, p. C2

Reduzir a vulnerabilidade às oscilações cambiais, aumentar a independência do Banco Central, reduzir incertezas jurídicas e entraves legais e definir o papel do setor público no mercado de crédito. Essas são as principais propostas de agenda do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) no relatório de progresso econômico e social na América Latina, que este ano elegeu o crescimento e estabilização do mercado de crédito como tema. "Depois de tanto tempo discutindo como estabilizar a economia e controlar a inflação, ficamos felizes de debater uma questão estrutural tão importante como a do crédito", disse o economista-chefe do BID, Guillermo Calvo. O objetivo do trabalho, apresentado ontem na sede do BNDES, no Rio, é o de identificar as causas de os ciclos de crédito na região sempre apresentarem correlação alta com os fluxos de capital externo, assim como o crescimento. O Brasil, no entanto, admite o economista do BID, tem avançado em alguns pontos da agenda sugerida, principalmente na redução da vulnerabilidade cambial, embora ainda precise caminhar muito em outros para alavancar ainda mais o crédito bancário, que hoje representa quase 29% do PIB, enquanto países como o Chile ostentam a marca dos 70%. A questão da incerteza jurídica foi quase um consenso entre os debatedores convidados, embora o diretor de Fiscalização do BC, Paulo Cavalheiro, tenha lembrado dos avanços, como o do esforço para aprovação da nova Lei de Falências e outros avanços, como a alienação fiduciária nas carteiras de financiamento imobiliário, recentemente regulamentada. Para o economista-chefe da Febraban, Roberto Troster, os números falam por si: "Para se ter uma idéia de quanto essa incerteza jurídica pesa, basta comparar os juros do crédito consignado e do CDC. No primeiro, as taxas médias são de 36,5%; no segundo, essas mesmas taxas saltam para 76,9%, sendo que a única diferença entre eles é a execução do pagamento", disse Troster. Embora o BID tenha se furtado a fazer propostas mais detalhadas para o papel do setor público no crédito, este foi o tema que concentrou e esquentou o debate, que já vem sendo reacendido por artigos e discussões acadêmicas recentes. O representante da Casa Civil Antônio Alves Jr. disse que, historicamente, o setor privado não financia o desenvolvimento no Brasil. O chefe de departamento de planejamento do BNDES, Ernani Torres Filho, provocou a mesa, questionando o que acontecerá caso a demanda das empresas por financiamento de longo prazo para investimento no negócio passe a ser maior do que a oferta do BNDES. "O mercado de capitais, o externo, ou os bancos privados vão absorver essa demanda?", questionou. Ilan Goldfajn, ex-diretor do BC e sócio da Gávea Investimentos, lembrou que a grande sombra que paira no momento é saber se o país está partindo para um ciclo de crescimento realmente sustentado do crédito e da economia, ou se pode haver mais uma parada súbita, como as que ocorreram após períodos virtuosos nos últimos 15 anos. Ele ressaltou que é preciso conseguir essa sustentação durante o processo de crescimento do crédito como percentual do PIB para obter seus efeitos positivos. "Num primeiro momento, esse aumento do crédito implica num ritmo mais lento de corte na taxa de juro, mas posteriormente vai proporcionar mais eficiência na condução da política monetária."