Título: Montadoras pedem data para livre comércio no Mercosul
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 03/11/2005, Brasil, p. A3
As montadoras argentinas discordam da posição defendida pelo governo de seu país de não estabelecer uma data para que entre em vigor o livre comércio de automóveis no Mercosul. Embora o tom tenha sido diplomático, a posição foi defendida de maneira clara pelo novo presidente da Adefa, a associação que reúne os fabricantes de automóveis da Argentina. "Temos de estabelecer uma data que seja boa para todos", disse Felipe Rovera, que apesar do tom amistoso, enfatizou a necessidade de que a data seja definida. Rovera, que preside a unidade local da General Motors, se converteu no fim do mês passado no primeiro brasileiro a dirigir a entidade argentina. Tanto a Adefa como a Anfavea querem que Brasil e Argentina estabeleçam 2008 como novo prazo para a liberalização do comércio de automóveis no Mercosul, depois de terem sido obrigados a aceitar a decisão tomada em setembro de 2004, de maneira unilateral pelo governo argentino, de não cumprir a data originalmente prevista para a abertura do mercado, a partir de janeiro de 2006. Com a data limite se aproximando, os dois governos têm de traçar rapidamente as regras que regularão o comércio de automóveis no Mercosul a partir de 2006 e o assunto será discutido semana que vem em uma reunião em Buenos Aires. O governo argentino quer que a entrada em vigor do livre comércio seja adiada de forma indefinida, até que se modifiquem uma série de condições que favoreceriam o Brasil na disputa pelos investimentos das montadoras. Também para pressionar as empresas a investir mais em seu país, as autoridades argentinas sinalizaram a intenção de restringir mais as condições do intercâmbio de veículos entre os dois países. Atualmente, o Brasil pode exportar US$ 2,6 para cada US$ 1 que importa da Argentina e vice-versa. No jargão da indústria automobilística, essa proporção é chamada de "flex" e está hoje em 2,6. Se a proporção for ultrapassada entra em funcionamento um mecanismo de punições financeiras para inibir o crescimento das importações. Segundo funcionários do governo argentino, o país vai propor que o "flex" seja reduzido, para tentar aumentar a participação dos veículos de fabricação nacional no mercado local. Além disso, o governo não quer que o "flex" seja aplicado sobre o conjunto do setor, mas pretende atribuir um número distinto para cada empresa. Desse modo, as empresas com menores investimentos e produção teriam direito a importar menos. Rovera também deixou claro que as associações de fábricas dos dois lados da fronteira se opõem a essa modificação. "A posição da Adefa, que já foi acertada com a Anfavea, é que nós queremos o estabelecimento de regras para o setor, não por empresa", afirmou.