Título: Dólar derruba preço de máquinas e equipamentos
Autor: Raquel Salgado e Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 03/11/2005, Brasil, p. A4

Investimento Movimento de queda vem sendo registrado em produtos importados e nos nacionais

O porto de Tubarão, no Espírito Santo, ganhou mais um guindaste em junho deste ano. O modelo tem capacidade de levantar 600 toneladas e foi importado de Trinidad Tobago pela trading SAB Company. Esse guindaste estava cotado a R$ 10,8 milhões há uma semana. Se esse investimento tivesse sido realizado há dois anos, a mesma máquina não sairia por menos de R$ 13,6 milhões, ou seja, custaria quase R$ 3 milhões a mais. De acordo com João Batista de Paula, presidente da SAB Company, os preços dos bens de capital importados pela trading em reais caíram cerca de 20% nos últimos dois anos, acompanhando a valorização do câmbio. "Esse dólar está maravilhoso", comemora o executivo. Ele explica que o câmbio barato está estimulando o investimento, porque reduziu o custo dos projetos. Favorecida pelo cenário macroeconômico, que alia câmbio barato e crescimento, a SAB Company registra um forte aumento nas vendas. A demanda por guindastes móveis, plataformas elevatórias e outros equipamentos pesados que a trading importa cresceu entre 30% e 40%. Na área de telecomunicações houve um "boom" e as vendas praticamente dobraram. Os bens de capital nacionais também ficaram mais baratos. Desde junho, os preços de máquinas e equipamentos apresentam variações negativas. De acordo com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), em setembro esses preços caíram 0,46%, após ficarem quase estáveis em agosto e de recuarem 0,36% em julho. São os dados do Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI). No ano, esses produtos ainda acumulam alta. De janeiro a outubro, o preço de máquinas e equipamentos subiu 5,13%. Pode parecer bastante, mas no mesmo período do ano passado o aumento foi de 17,86% pelos dados do IGP-M. Foto: Fabiano Cerchiari/Valor

João Batista de Paula, da SAB Company: queda de 20% no preço dos importados nos últimos dois anos Na avaliação do economista Claudio Frischtak, presidente da Inter. B Consultoria Internacional de Negócios, o maior impacto na redução dos preços vem mesmo do dólar, mas não se pode menosprezar os incentivos tributários do governo federal para o mercado de máquinas e equipamentos. Segundo estudo de Frischtak, a combinação de um real apreciado com redução de impostos barateou os bens de capital em pelo menos 10%. Esse cálculo leva em consideração medidas anunciadas pelo governo no ano passado. Agora em junho de 2005, as máquinas e equipamentos compradas no mercado externo tiveram a alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) zerada. Antes, ela era de 2%. Para o economista, o efeito da redução do IPI sobre os preços das máquinas será algo marginal. Sobre a taxa de investimento brasileira, o efeito do câmbio deve ser neutro, estima o economista. Isso porque se por um lado há redução nos preços dos bens de capital, o que estimularia o investimento em máquinas para ampliação da produção, por outro, entram mais produtos importados no país. Ainda assim, entre o segundo trimestre do ano passado e igual período de 2005, a taxa de investimento no país cresceu 1%, sendo que 0,34 ponto percentual pode ser explicada pelo estímulo vindo da redução dos preços de bens de capital. Em valores correntes, nesse período, a taxa de investimento foi de 18,9% do Produto Interno Bruto (PIB) para 19,9%. Alguns fabricantes nacionais de bens de capital reclamam, no entanto, que o incentivo tributário não foi suficiente. A pressão de custos como matéria-prima e mão-de-obra, para eles, acaba anulando o benefício. Com o dólar no nível atual, dizem, as empresas encontram dificuldade para concorrer com os produtos importados. Nestor de Castro Neto, presidente da Voith Paper, diz que os preços das máquinas vendidas pela empresa estão aumentando, refletindo a alta de custos. Ele afirma que a mão-de-obra, um custo expressivo para o negócio, avançou 70% nos últimos anos - resultado dos reajustes salariais mais a valorização do dólar. Ele reconhece que o preço do aço, uma importante matéria-prima, recuou nos últimos meses e a indústria "quase consegue comprar aço no Brasil pelo mesmo preço que no exterior". Mas o executivo lembra que as cotações do aço aumentaram 280% nos últimos dois anos e meio. Neto diz que o efeito da queda de tributos promovida pelo governo é marginal nos preços. "O que o governo está fazendo é apenas melhorar a equalização com os importados", diz. Na Mausa Produtos Industriais, empresa que fabrica centrífugas automáticas, filtros rotativos e bombas de vácuo, a situação é semelhante. Os preços dos produtos subiram, em média, cerca de 12% a 15% em relação ao ano passado. Segundo Eduardo Dedini, assistente da diretoria comercial, a maior parte dos componentes utilizados pela empresa é comprada no mercado nacional e a a chapa de inox, matéria-prima essencial, está 70% mais cara este ano. Dedini comenta que o preço do produto importado está sim mais barato que o concorrente nacional, mas que a pressão de custos neutralizou o efeito positivo do câmbio. Mesmo assim, o faturamento da empresa está crescendo 20% neste ano. A Mausa evita trabalhar com material importado, pois diz que é preciso pagar antecipado e, às vezes, o tempo de espera pelo produto é muito grande. Por isso, sofre mais com a concorrência externa. "Os produtos importados estão mais competitivos, seja aqui ou no mercado internacional. Estamos enfrentando forte concorrência de americanos e alemães", lamenta.