Título: Aliados municipais tendem à oposição
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 03/11/2005, Política, p. A5

Partidos Balanço indica que PTB, PL e PP coligam-se mais com o PSDB e o PFL nos municípios

O alinhamento de PTB, PP e PL com partidos de oposição nas eleições municipais no ano passado vai complicar ainda mais a tarefa dos articuladores políticos do governo para atrair estas siglas para um projeto de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sobretudo se permanecer a norma que exige a verticalização das coligações. Em 2004, a cúpula do PT trabalhou com o comando destes partidos- os principais envolvidos nas denúncias de financiamento ilegal de campanhas que teria sido coordenado pela antiga direção petista, para aumentar o número de alianças municipais dos petistas com liberais, petebistas e progressistas. Estão entre os beneficiários por saques nas contas do empresário mineiro Marcos Valério os tesoureiros do PP e do PL. Um episódio público, de entrega de R$ 4 milhões em dinheiro no ano passado, envolveu o PTB e o PT. As composições municipais são um dos principais fatores de influência na eleição para a Câmara dos Deputados. Por tabela, acabam favorecendo ou prejudicando uma aliança nacional uniforme em todo o país, como a legislação atual exige. A influência do governador sobre o posicionamento político do prefeito é muito grande, o que faz com que a base municipal de um deputado possa pressioná-lo a privilegiar o arranjo local sobre o nacional. É um problema que seria muito diminuído caso a emenda da desverticalização passe na Câmara. Nesta hipótese, que fica cada dia mais improvável, o PL poderia apoiar o candidato tucano ao governo de São Paulo, por exemplo, e permanecer com Lula no plano nacional, reduzindo os atritos entre os parlamentares e os prefeitos. O esforço do ano passado foi inútil, como mostram dados compilados pelo Pedro Floriano Ribeiro, da Universidade Federal de São Carlos (SP), apresentados na última semana na reunião anual da Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais (Anpocs), o maior encontro de Ciências Sociais e Políticas do país. As coligações com o PTB, PL e PP avançaram muito, mas não para tirar estes partidos governistas da órbita da oposição no plano regional. Em 2000, apenas 5% dos municípios tiveram uma coligação entre PT e PTB. Em 2004, este número saltou para 29%. Com o PL, o avanço foi de 8% para 30%. Em contrapartida, com o PP, a evolução das alianças petistas foi discreta: passou de 2% para 8% dos municípios. O problema é que estes partidos não são governistas apenas em Brasília. Apóiam governadores alinhados com a oposição federal em seus Estados e mantiveram as alianças municipais, majoritariamente, dentro do padrão local. O PL do ex-deputado Valdemar da Costa Neto (SP), por exemplo, se coligou com o PFL e o PSDB em 29% dos municípios cada, praticamente o mesmo percentual de alianças com os petistas. O PTB do ex-deputado Roberto Jefferson ficou ainda mais perto da oposição a Lula. Proporcionalmente, o maior parceiro dos petebistas foi o PFL, com quem fez aliança em 36% dos municípios. O segundo maior companheiro de urnas foi o PSDB, com 34% das coligações. Ainda à frente do PT, aparece ao lado dos petebistas o PDT, com 31% das alianças. Já com o PP do deputado José Janene (PR), a opção preferencial pelos tucanos e pefelistas nos Estados fica ainda mais clara. Onde disputou eleições, o PP fez coligação com o PSDB em 44% das cidades e com o PFL em 41% delas. Em relação aos tucanos, o número de alianças PP/PSDB teve um grande salto. Na eleição de 2000, esta dobradinha esteve presente em 30% dos municípios. Na maior parte dos casos, o PT ficou com seus aliados de sempre. Em 70% dos municípios em que os petistas fizeram alianças, o PC do B estava junto. O PSB ficou com o PT em 30% dos municípios. E isto mesmo com o esforço consistente dos petistas de aumentarem o número de alianças, orientação do partido desde 1995, quando José Dirceu foi eleito presidente da sigla. Na eleição municipal de 1996, o PT concorreu sem parceiros em 16% das cidades, índice que caiu para 7% no ano passado. Na seara oposicionista, as disputas municipais mostram que a proximidade entre PFL e PSDB mantêm-se em todos os níveis. Em 2000, quando a aliança entre os dois partidos no plano nacional começava a estremecer, tucanos e pefelistas estavam juntos em 34% das coligações municipais. Em 2004, em que formalmente a parceria nacional havia sido rompida, o número de coligações municipais em vez de cair aumentou. Passou para 50% de todas as alianças que cada partido fez no país. O estudo de Ribeiro mostra que, há pelo menos dez anos, petistas não se misturam com tucanos e pefelistas em nenhum nível. Em 1996, PT e PSDB estavam coligados em 2% dos municípios. O percentual chegou a ir para 6% em 2000 e na eleição seguinte caiu para 4%. Com os pefelistas, o PT não fez uma aliança sequer em 1996. O distanciamento diminuiu nas eleições seguintes, mas não a ponto de representar uma tendência: foi para 1% em 2000 e 4% em 2004. Partido com o qual o PT não conseguiu trazer por inteiro para o apoio ao presidente Lula no Congresso, o PMDB refletiu nas composições municipais a dificuldade de aproximação. A coligação entre petistas e pemedebistas avançou muito pouco: passou de 9% dos municípios em 2000 para 14% em 2004. É menos da metade do que as alianças feitas por pemedebistas com com o PDT e PSB e muito menos do que os 26% de acordos municipais feitos com os tucanos. De todos os partidos, os pemedebistas foram os mais ecléticos em alianças municipais. Em um universo entre 25% e 30% dos municípios, o PMDB fechou alianças com seis partidos: PSB, PDT, PSDB, PFL e PL. O estudo de Floriano não quantificou as alianças feitas com os partidos menores, à exceção do casamento entre petistas e comunistas.