Título: Oposição recorre ao TSE e quer ouvir citados em denúncia
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 03/11/2005, Política, p. A6

A oposição, após a trégua forçada pelo feriado de Finados, vai abrir duas linhas de investigação sobre o suposto financiamento de Cuba à campanha de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. Todos os envolvidos na acusação serão convocados a prestar depoimentos nas CPIs em funcionamento no Congresso. E o PSDB fará representação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para descobrir se houve ou não dinheiro do exterior irrigando as contas do PT. "Não tivemos CPI nesta semana. Perdemos o palco para ecoar a crise. Mas vamos voltar com tudo na próxima semana", afirma o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA). Bem ao estilo "oposição responsável", tucanos e pefelistas vão agir com cautela no episódio Cuba. ACM Neto vê pontos de verossimilhança na história, mas alerta que é preciso unir todas as peças do quebra-cabeça. Para ele, não adianta precipitação, queimar etapas e chamar logo o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. "Vamos do menos para o mais. Vamos ouvir o Buratti (Rogério Buratti), o Poleto (Vladimir Poleto), o motorista que levou o dinheiro e o piloto que o transportou", enumera o pefelista. O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), tem uma visão menos estratégica e mais pragmática para o adiamento da convocação de Palocci. Para ele, é preciso cautela em expor o principal nome da economia nacional. "Sempre disse que deveríamos ter cuidado com o Palocci", diz o senador. Apesar de considerar que a participação de Palocci no episódio pode provocar abalos na estabilidade econômica, o tucano amazonense afirma que isto não será empecilho às investigações. "Se aparecer um momento de inevitabilidade de convocá-lo, a gente vai para cima dela. Não vamos ficar a vida inteira passando a mão na cabeça dele", conclui. Virgílio distingue a oposição feita por PSDB e PFL daquela do PT quando do governo Fernando Henrique Cardoso: "Não queremos a desestabilização. O PT nunca deu o benefício da dúvida a ninguém. Nós damos esse benefício". O líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA), diz ser "do time que acredita na necessidade de a oposição ser responsável". E descarta pedido de impeachment de Lula. "O presidente será julgado nas urnas, pelo povo, e não por nós. Não dá tempo para abrir um processo de perda de mandato contra Lula. Estamos a onze meses das eleições", completa. O deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) afirma que o atual governo petista "pode ser enquadrado, sem medo, em todos os artigos do Código Penal". Reconhece que esse excesso de responsabilidade, em certos momentos, beirou a omissão, na busca de preservar o regime democrático. "O problema é que temos governantes que não têm estatura para tal. Basta o PT respirar um pouco mais e eles voltam ao passado, sendo agressivos, irresponsáveis e demagogos". O líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldmann (SP) alerta para a ânsia de todos os setores em descobrir tudo de uma vez. "Temos denúncias que precisam de tempo para ser investigadas. Não podemos produzir um escândalo por dia", diz o tucano.