Título: Em Londres, Aécio diz que vai "jogar água na fervura"
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 03/11/2005, Política, p. A6

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), disse ontem em Londres estar disposto a interferir na crise política para evitar a radicalização entre governo e oposição. "A nós que administramos, governadores e presidente da República, não nos interessa essa radicalização porque isso paralisa as administrações", disse. "Eu pretendo também, do ponto de vista político, sugerir que nós coloquemos um pouco de água nesta fervura". Aécio está na Europa para encontros com investidores. O governador está disposto até a pedir uma audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tentar desobstruir negociações que, a seu ver, foram prejudicadas pelo acirramento da crise política, como o ressarcimento da Lei Kandir. "Está aí a palavra empenhada do presidente da República e o compromisso do ministro da Fazenda de cumprir um acordo de transferência de R$ 5,2 bilhões aos estados, como ressarcimento às perdas da Lei Kandir, e foram transferidos até agora apenas R$ 4,3 bilhões", disse. Para Aécio, o impasse em torno desse ressarcimento pode ter consequências para a votação do Orçamento no Congresso. Além da Lei Kandir, o governador demonstrou-se preocupado com o aval da União a empréstimos do Banco Mundial (Bird) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para os Estados, além da liberação de recursos do Fundo Nacional de Segurança "Até novembro, os recursos do Fundo Nacional de Segurança não foram liberados para praticamente nenhum estado. É um absurdo", disse. "Todas essas negociações ficam contaminadas pela disputa política e pela radicalização do debate. Eu não sou não um dinamitador de pontes. Existe os que são". Aécio acusa o PT de ser o principal dinamitador da crise e cita as denúncias contra o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) como exemplo. No governo, reconhece, há esforços de conciliação. "Ali há uma divisão muito clara de interpretação, alguns como o ministro Jacques Wagner, o ministro Márcio Thomaz Bastos, o ministro Ciro Gomes estão na linha do abrandamento, na linha, vamos dizer, da investigação focada nas denúncias, mas uma parcela da ação parlamentar do PT prefere o ataque às oposições como forma de mascarar essas denúncias e transformar tudo numa coisa só", disse Sobre o acirramento da semana, com a denúncia de que a eleição de Lula teria contado com dinheiro de Cuba, que levou a oposição voltar a falar de impeachment, Aécio quis delimitar diferenças com alguns de seus correligionários. "Agora não podemos transformar isso no impeachment. Eu não acho que para o Brasil seja bom o afastamento do presidente. É absolutamente diferente de alguns companheiros meus de partido. Eu não quero que o mandato seja de dois anos e meio "