Título: Câmara tenta garantir quórum para evitar atraso na cassação de Dirceu
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 03/11/2005, Política, p. A6

A oposição fez um esforço conjunto nas últimas 48 horas para tentar fazer seus deputados trabalharem no dia de hoje. PFL, PSDB, PPS, PDT e PV conversaram com as suas bancadas na Câmara com o intuito de garantir o maior número possível de parlamentares para participar das deliberações no plenário na tarde de hoje e, assim, evitar o cancelamento da sessão por falta de quórum. Toda a estratégia foi montada para impedir um novo atraso na votação do pedido de cassação do mandato do deputado José Dirceu (PT-SP), conturbado por diversos recursos apresentados pelo próprio parlamentar junto ao Supremo Tribunal Federal (STF). O presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-SP), tratou pessoalmente de articular com os colegas. O esforço concentrado deve evitar um novo cochilo da oposição. Na sexta-feira, dia 21 de outubro, e na segunda, dia 24, as sessões no plenário da Câmara não tiveram validade por falta da presença de deputados. Na ocasião, o vice-líder do PFL Pauderney Avelino (AM) protestou. Reconheceu o erro de tucanos e pefelistas em não convocar os parlamentares. As sessões servem de contagem prazo para os trabalhos do Conselho de Ética. A deputada Ângela Guadagnin (PT-SP) pediu vista do processo de Dirceu depois da leitura do relatório de Júlio Delgado (PSB-MG), na segunda-feira. A deputada tem direito a duas sessões para analisar o assunto. Houve sessão na terça-feira. Ontem, a Câmara não funcionou por causa do feriado de Finados. Izar conta com a sessão de hoje para poder colocar o processo de Dirceu em votação amanhã, às 10h. Caso contrário, os parlamentares não conseguirão decidir sobre o mandato do ex-ministro-chefe da Casa Civil no dia 9, no plenário, como determinou o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP). O PSDB fará um rodízio entre os seus parlamentares. "Estamos tentando ver o máximo de deputados possíveis. Fizemos um sistema de plantão na bancada", revelou o líder tucano Alberto Goldman (SP). Ele avalia a avalanche de recursos de Dirceu ao Supremo Tribunal Federal como legítimos. "São direitos de quem está perto da cassação", afirmou. O líder da minoria, José Carlos Aleluia (PFL-BA), informou sobre a existência de uma força-tarefa dos partidos de oposição para garantir o quórum mínimo de 51 deputados no plenário na quinta-feira. "Existe uma movimentação sim. Até alguns deputados do governo avisaram que virão. O Palácio do Planalto quer ver terminada essa fase de cassações o mais rápido possível", disse. Para Aleluia, a importância do funcionamento do plenário na quinta-feira vai além da cassação de Dirceu. "É muito ruim para a imagem da Casa quando uma sessão é anulada por falta de quórum", disse o pefelista, para quem a oposição "não quer cercear os direitos de defesa do ex-ministro, mas apenas garantir a tramitação célere dos processos". Praticamente todos os líderes da oposição receberam telefonemas do presidente do Conselho de Ética. Izar pediu ao partidos a garantia de quórum na sessão de quinta-feira. Ele teme que a população entenda que a Câmara, e talvez até o colegiado, esteja atrasando a votação do destino de Dirceu de forma proposital. Na segunda-feira, o petebista solicitou o apoio dos integrantes do Conselho: "Gostaria de pedir a todos que fiquem em Brasília e participem da sessão de quinta-feira". Embora haja pressa por parte da oposição e do próprio Izar para votar a cassação de Dirceu no plenário até o dia 9, o presidente do Conselho solicitou e a Câmara aprovou na terça-feira a extensão do prazo de tramitação do processo do ex-ministro por mais 45 dias. Também na terça-feira, o Conselho de Ética aprovou pela primeira vez nessa crise a absolvição de um dos acusados. O líder do PL na Câmara, deputado Sandro Mabel (GO), escapou da cassação por falta de provas. Ele era acusado de ter oferecido R$ 1 milhão mais uma mesada de R$ 30 mil para a deputada Raquel Teixeira (PSDB-GO) trocar de partido. Benedito de Lira (PP-AL), relator do processo, não considerou Mabel inocente. "Não estou dizendo que ele é inocente. Apenas peço o arquivamento por falta de provas", afirmou. O líder do PL chorou ao final da sessão do conselho, quando o relatório de Lima foi aprovado por 14 votos a 0. "Eu não desejo isso para ninguém. Antes, eu andava de peito aberto, agora tive que baixar a cabeça. Podia ser governador do meu Estado. Acabou esta minha chance. Isto não importa. O que importa agora é este resgate", disse Mabel. Hoje, o conselho votará o pedido de cassação do deputado Romeu Queiroz (PTB-MG).