Título: China já é o terceiro exportador global
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 11/11/2004, Brasil, p. A3

Até os anos 80, o Brasil tinha um volume de comércio exterior maior do que a China. Vinte anos depois, o país comercializa apenas o equivalente a 13% do que fazem os chineses, como mostram estatísticas consolidadas da Organização Mundial de Comércio (OMC). Hoje, o presidente Hu Jintao desembarca no Brasil com um novo resultado, que continua a surpreender o resto do mundo: a China superou o Japão e tornou-se o terceiro maior exportador global em setembro, ficando agora só atrás dos Estados Unidos e da Alemanha. Em 1980, as exportações totais do Brasil alcançavam US$ 21 bilhões, enquanto a China não exportava mais de US$ 18 bilhões. Também nas importações, o Brasil fazia mais: US$ 25 bilhões comparados a US$ 20 bilhões da China. Dez anos depois, o Brasil só exportava US$ 31,4 bilhões, metade dos US$ 62 bilhões da China. O país diminuiu as importações para US$ 22,5 bilhões enquanto a China comprava US$ 53 bilhões. Para Michael Finger, um dos principais economistas da OMC, a reviravolta deu-se nos anos oitenta, quando os latinos sofriam a crise da dívida externa e os chineses começavam a abrir seu mercado para investimentos estrangeiros. No ano passado, a China já tinha se tornado o terceiro maior importador mundial. Em setembro, agora, foi a vez de ocupar o terceiro lugar entre os exportadores. O Brasil é o 25º exportador e o 30º importador. De janeiro a setembro deste ano, a China exportou US$ 416,5 bilhões, num crescimento de 35,3% em relação ao ano passado, superando o Japão, que vendeu US$ 414,6 bilhões (alta de 22,1%). Do lado das importações, a China manteve a terceira posição conquistada no ano passado, com compras de US$ 411,8 bilhões. As compras cresceram, em valor, 37,9%, em meio ao boom das commodities. Nesse contexto, o comércio da China com o Brasil tem sido mais dinâmico do que suas trocas com o resto do mundo. As exportações chinesas para o Brasil chegaram a US$ 2,7 bilhões até setembro, num aumento de 77%, quase o dobro de seu comércio com o resto do mundo. Já as importações provenientes do Brasil alcançaram US$ 6,6 bilhões, num crescimento de 52%. Para Finger, a importância do mercado chinês continua a aumentar fortemente. Ele vê boa margem para o Brasil ampliar suas exportações para aquele mercado. Isso pode ocorrer principalmente no setor de carnes. As importações chinesas de todo tipo de carnes caíram 30% este ano, para US$ 390 milhões, por causa de barreiras sanitárias. Dois fatores impulsionam o comércio chinês. Primeiro, empresas estrangeiras respondem por mais de 50% das exportações da China e continuam a investir fortemente no país, estimuladas pelos próprios compromissos de abertura que os chineses adotaram. Segundo, enquanto todo mundo fala do perigo chinês no setor têxtil, as estatísticas mostram que suas exportações mais dinâmicas são os produtos eletrônicos (computador, DVD, componentes, etc). Enquanto as exportações chinesas de produtos tradicionais, de trabalho intensivo, como calçados e brinquedos, cresceram até agora por volta de 20%, as exportações de computadores aumentaram 43% (US$ 60 bilhões) e de equipamentos de telecomunicações 55% (US$ 46 bilhões). As vendas de têxteis e vestuário alcançaram US$ 69 bilhões. Esses formidáveis resultados são atribuídos em parte à sua abertura. Exemplo: o país faz parte do Acordo de Produtos de Informática da OMC, que fixa tarifa zero para a importação de uma série de produtos. Com isso, companhias de Taiwan, Cingapura e Coréia do Sul continuam investindo na China. "O Brasil podia prestar atenção onde a China fez melhor, na captação de investimentos e produção de manufaturados", diz Finger.

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